Desporto

Pichardo, destaque e incógnita de Portugal em Budapeste

Foto DR/FPAtletismo
Foto DR/FPAtletismo

Pedro Pichardo, campeão olímpico, do mundo e da Europa do triplo salto, é o destaque óbvio da seleção portuguesa para os Mundiais de atletismo, mas também a principal incógnita lusa na competição que arranca no sábado, em Budapeste.

A dois dias de iniciarem os Campeonatos do Mundo, que vão ser disputados até 27 de agosto, em Budapeste, a temporada ao ar livre do saltador luso, de 30 anos, resume-se à presença na etapa de Doha da Liga de Diamante, que venceu, com um grande, mas irregular salto a 17,91 metros [com vento favorável 2,1].

O inverno foi auspicioso para o atleta do Benfica, que, na pista coberta, venceu o concurso do triplo no Nacional de clubes, com 17.12, no 'aquecimento' para o título europeu 'indoor', em Istambul, com 17,60, na sua melhor marca do ano.

Desde então, além da presença no Qatar, onde saltou ainda 17,65 e 16,04, falhou os Jogos Europeus, na Polónia, e os campeonatos nacionais, devido a uma lombalgia.

A dúvida sobre a sua presença no Centro Nacional de Atletismo da capital húngara só deve ser desfeita perto do arranque da qualificação, logo no primeiro dia dos Mundiais, a partir das 19:35 locais (18:35 em Lisboa), numa competição em que vai participar também Tiago Luís Pereira, agora sob a orientação de Ivan Pedroso.

Pichardo detém o terceiro salto do ano, com os 17,60 conseguidos em Istambul, atrás do jovem jamaicano Jaydon Hibbert, de 18 anos, que chega à capital húngara com um registo de 17,87, seis centímetros mais do que Hugues Fabrice Zango, do Burkina Faso.

Sem a presença de Patrícia Mamona, a outra medalhada olímpica do atletismo luso, devido a uma lesão no joelho agravada nos Europeus 'indoor', em Istambul, na Turquia, as esperanças de medalha convergem na direção de Auriol Dongmo, que ficou à 'porta' do pódio olímpico em Tóquio2020, com o quarto lugar, e foi quinta nos Mundiais Oregon2023, tendo juntado este ano o segundo título europeu 'indoor' ao mundial com o sexto melhor registo do ano (19,76).

Portugal esgotou a quota no concurso do lançamento do peso feminino -- é o único caso --, com Jessica Inchude (18,65 este ano) e Eliana Bandeira (18,49), contando ainda com dois representantes na competição masculina, com a presença de Francisco Belo (20,64) e Tsanko Arnaudov (20,17).

Depois do quinto posto em Tóquio2020 e do sexto em Oregon2022, Liliana Cá procura voltar a estar entre as melhores do mundo no lançamento do disco, com o 13.º melhor arremesso do ano (64,32), competindo ainda com a compatriota Irina Rodrigues (60,76).

Aos 47 anos, João Vieira dá mais um passo rumo à eternidade, com a 13.ª presença em Mundiais, igualando o também marchador espanhol Jesus Bragado, investindo nas duas distâncias, 20 e 35 -- que devem ser um recurso em caso de desaire na primeira prova --, atendendo à extinção dos 50, no qual conquistou a medalha de prata em Doha2019.

Também Inês Henriques 'defende' Portugal pela 11.ª vez em Mundiais ao ar livre, igualando a igualmente rio-maiorense Susana Feitor, na distância mais longa, na ausência da distância em que se sagrou campeã do mundo em Londres2017.

A marcha lusa vai estar ainda representada pela recordista nacional Ana Cabecinha e por Vitória Oliveira, nos 20 quilómetros, a competição que dá o tiro de partida em Budapeste2023, no sábado, às 08:50 locais (07:50), com partida e chegada na Praça dos Heróis, no centro da capital da Hungria.

Solange Jesus é a solitária protagonista do regresso luso à maratona dos Mundiais, depois da inédita ausência nos Mundiais de 2022, nos Estados Unidos, e de já o ter feito nos Europeus, em Munique2022, onde desistiu.

Na pista, apenas com Mariana Machado no meio-fundo, nos 5.000 metros, as surpresas podem partir de João Coelho, nos 400 metros, e Isaac Nader, nos 1.500, depois de terem, já este ano, melhorado os seus recordes nacionais nas distâncias.

Cátia Azevedo, nos 400, Patrícia Silva, nos 800, Marta Pen e Salomé Afonso, nos 1.500, e as velocistas Arialis Martínez, nos 100, e Lorene Bazolo, nos 200 além do hectómetro, e Fatoumata Diallo, nos 400 barreiras, integram o selecionado luso na pista, que conta ainda com Leandro Ramos, no dardo, e o repescado Pedro Buaró, no salto com vara.

A representação lusa em Budapeste2023 é 'engrossada' pela inédita presença da estafeta 4x400 metros mistos, na qual vão alinhar quatro entre João Coelho, Cátia Azevedo, Carina Vanessa, Fatoumata Diallo, Ricardo dos Santos e Omar Elkhatib.

Desta forma, depois dos 23 presentes em Oregon2022, Portugal apresenta 29 atletas aos Mundiais, numa delegação que iguala o registo de Berlim2009, onde Nelson Évora alcançou a prata no triplo, e fica apenas atrás dos 30 de Atenas1997, no auge de atletas como Fernanda Ribeiro, Manuela Machado e Carla Sacramento.

Os Mundiais de atletismo de 2023 vão ser disputados em Budapeste, entre 19 e 27 de agosto.

Portugal soma 23 medalhas em Mundiais de atletismo, sete das quais de ouro, por Rosa Mota, na maratona, em Roma1987, por Fernanda Ribeiro, nos 10.000 metros, e Manuela Machado, na maratona, em Gotemburgo1995, por Carla Sacramento, nos 1.500 metros, em Atenas1997, por Nelson Évora, no triplo, em Osaka2007, por Inês Henriques, nos 50 marcha, em Londres2017, e por Pichardo, novamente no triplo, em Oregon2022.

Nas 18 presenças anteriores, os atletas lusos subiram outras 17 vezes ao pódio, conquistando sete medalhas de prata e nove de bronze.

Federação não promete medalhas mas espera lutar por elas

O Diretor Técnico Nacional (DTN) da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), José Santos, escusou-se a apontar lugares de pódio como objetivo para os Mundiais Budapeste2023, mas disse esperar lutar pelas medalhas.

"Temos 29 atletas, maioritariamente feminina, com 18 mulheres e 11 homens, que eu não tenho dúvidas nenhumas que vão empenhar-se para fazerem as suas melhores marcas nos Campeonatos do Mundo. Vai perguntar-me por medalhas e por finalistas, mas isso depende de muita coisa", reconheceu o responsável, em declarações à agência Lusa.

Portugal apresenta-se na capital húngara com a segunda maior delegação de sempre, semelhante à apresentada em Berlim2009, onde Nelson Évora alcançou a prata no triplo, e apenas atrás dos 30 de Atenas1997, no auge de atletas como Fernanda Ribeiro, Manuela Machado e Carla Sacramento.

"Dos nossos dois medalhados olímpicos, a Patrícia Mamona [prata no triplo salto em Tóquio2020], infelizmente, não vai estar presente, devido a lesão, e o Pedro Pichardo esteve, durante muito tempo, com problemas físicos, mas espero que possa estar em condições", recordou José Santos, sustentando a sua dúvida sobre a candidatura a medalhas.

Face às dúvidas sobre o estado físico do campeão olímpico e europeu no triplo na defesa do título conquistado em Oregon2022, cuja qualificação está marcada logo para sábado, o responsável técnico disse acreditar na sua recuperação.

"A FPA espera que os atletas estejam bem, como eles também esperam isso. Eu sei que há atletas que já não vão às competições se não se sentirem bem, porque não querem falhar", salientou, sem se referir diretamente a Pichardo, que não compete desde maio.

Mesmo assim, o DTN recordou o potencial de Auriol Dongmo, campeã da Europa e do mundo em pista coberta, e de outros "atletas promissores", como Isaac Nader, nos 1.500 metros, e João Coelho, nos 400, e a "belíssima" estafeta dos 4x400 mistos.

"Temos representantes em todas as disciplinas, oito nos lançamentos, seis na velocidade e outros tantos no meio-fundo, quatro na marcha, três nos saltos... acho que já se nota menos debilidade no nosso atletismo", vincou.

Dos 29 selecionados, 13 chegam à capital húngara com recordes pessoais estabelecidos já este ano, levando José Santos a resumir: "Espero bons resultados, não vou estar a dizer que espero medalhas ou finalistas, vou esperar bons resultados e muito empenho".

A 19.ª edição dos Campeonatos do Mundo de atletismo vai ser disputada em Budapeste, entre sábado e 27 de agosto, pouco mais de um ano depois de Eugene ter acolhido a competição que tinha sido adiada em 2021 devido à pandemia de covid-19.~

Nas 18 presenças anteriores, os atletas lusos subiram 23 vezes ao pódio, conquistando sete medalhas de ouro, sete de prata e nove de bronze.

Os títulos mundiais foram conquistados por Rosa Mota, na maratona, em Roma1987, por Fernanda Ribeiro, nos 10.000 metros, e Manuela Machado, na maratona, em Gotemburgo1995, por Carla Sacramento, nos 1.500 metros, em Atenas1997, por Nelson Évora, no triplo, em Osaka2007, por Inês Henriques, nos 50 marcha, em Londres2017, e por Pichardo, novamente no triplo, em Oregon2022.