Emigração deve ser fruto de "escolha livre e ponderada"
O bispo Joaquim Mendes, membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana (CEPSMH), defendeu ontem, na linha do preconizado pelo Papa Francisco, que a emigração deve ser "fruto de uma escolha livre, informada e ponderada".
Em Fátima, onde este fim de semana decorre a Peregrinação do Migrante e do Refugiado, Joaquim Mendes, também bispo auxiliar de Lisboa, abordou em conferência de imprensa a mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado de 2023, que assenta na premissa "Livres de escolher se migrar ou ficar".
Para Joaquim Mendes, "guerras, violência, desastres naturais e carestias são alguns fatores que constrangem a emigrar, mas existem também a pobreza, a falta de perspetivas reais de vida para si e para a própria família, que minam a liberdade de escolha de emigrar, que obrigam a emigrar".
O prelado defendeu que "para fazer da emigração uma escolha verdadeiramente livre, é preciso esforçar-se por garantir a todos uma participação no bem comum, o respeito pelos direitos fundamentais e o acesso ao desenvolvimento humano integral".
"O grande desafio diante da imigração é trabalhar na integração e na inclusão. É necessário implementar processos de integração que passam pelo conhecimento da língua, pela aquisição de competências profissionais, pela solidariedade e pelo acompanhamento e também pelo conhecimento da realidade de onde provêm os imigrantes", acrescentou.
Na ocasião, Eugénia Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações apresentou alguns dos problemas com que os imigrantes se confrontam em Portugal, nomeadamente os mais jovens, como estudantes, que passam pela solidão, pelos riscos de caírem na alçada de redes de prostituição ou pela exploração de que são alvo no capítulo da habitação.
"A habitação e a prostituição são as questões que mais nos preocupam", disse a responsável.
Milhares de católicos são esperados na noite de hoje e na manhã de domingo em Fátima para a Peregrinação do Migrante e do Refugiado, presidida pelo arcebispo de Luanda, Filomeno Dias Vieira.
A peregrinação está integrada na 51.ª Semana das Migrações, promovida pela Obra Católica Portuguesa para as Migrações, organismo da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana (CEPSMH).
Numa mensagem para esta semana, a Comissão Episcopal sublinha que as migrações são um "fenómeno incontornável", que pode "servir de instrumento para uma maior justiça social".
Em nota emitida a propósito da Semana Nacional das Migrações, a Comissão Episcopal lembra as notícias que despertam a "sensibilidade diante da tragédia de migrantes e refugiados que perdem a vida na travessia do Mediterrâneo. Uma tragédia que, por se repetir, corre o risco de se banalizar".
Evocando uma mensagem do Papa Francisco, defendendo que deveria ser garantido a todos o direito a não ser forçado a emigrar, o direito de cada pessoa poder viver em paz e de um modo digno na sua própria terra, no seu meio, entre a própria família e realizar-se pessoalmente, a CEPSMH admite que "não é realista pensar que nesta geração esse direito seja garantido para todos", pelo que há que "garantir também o direito a sair da sua terra e emigrar para ter acesso a uma vida digna".
"As migrações são, por isso, um fenómeno incontornável, que pode servir de instrumento para uma maior justiça social, concretizar o princípio pilar da doutrina social da Igreja: o destino universal dos bens da Terra", acrescenta a Comissão Episcopal.
A peregrinação de hoje e domingo, considerada uma das maiores do ano à Cova da Iria, conta tradicionalmente com muitos emigrantes portugueses que se encontram no país em férias, bem como com um crescente número de imigrantes radicados em Portugal.
A peregrinação segue o programa habitual, com a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, a partir das 21:30, seguida de procissão de velas e liturgia da Palavra, no altar do recinto, a marcar o primeiro dia.
No domingo, e depois de uma noite de vigília, será novamente recitado o terço, na Capelinha, a partir das 09:00, a que se seguirá a missa, a bênção dos doentes, a consagração e a procissão do Adeus.
Cumprindo uma tradição iniciada há 83 anos por um grupo de jovens da Juventude Agrária Católica de 17 paróquias da então diocese de Leiria, no domingo terá lugar a tradicional oferta de trigo ao Santuário de Fátima.
Segundo informação do santuário, em 2022, foram oferecidos 5.727 quilogramas de trigo, mais de 3.300 litros de azeite e 344 quilogramas de farinha.
No santuário durante o ano de 2022 foram consumidas 11.000 hóstias médias e mais de 1,5 milhões de partículas nas 2.545 missas do programa oficial.