A vertigem socialista
A lista de candidatos do PS-M às Regionais honra alguns princípios, dá azo a brigas e ignora lideranças
Boa noite!
A lista de candidatos às Regionais que a Comissão Política do PS-M aprovou ontem tem os seus méritos. Mesmo que marcada por algumas incoerências, respeita princípios e teve cuidado de zelar por algumas aritméticas. O problema é que nem todos os socialistas olham para os nomes escolhidos da mesma forma, mesmo sabendo que não cabem todos nas opções do líder.
É uma lista que, segundo Sérgio Gonçalves, tem “quadros qualificados, com competência e provas dadas nas várias áreas profissionais, profundos conhecedores dos diferentes dossiês e que estão de corpo e alma no projecto de mudança da Madeira”. Portanto, teve por base critérios objectivos que conjugam a experiência política e parlamentar com outros atributos valorizados por quem sabe ao que vai e com quem quer ir.
É uma lista focada nos princípios, mesmo que alguns não vigorem na Região por decisão da maioria de direita. É evidente que o PS não só cumpre, como vai mais além dos requisitos definidos pela Lei da Paridade, tendo 24 mulheres entre os 47 candidatos efectivos.
É uma lista marcada pela renovação, em vários casos forçada, que atinge quase 60% em termos de candidatos efectivos face à proposta apresentada em 2019. Entre os 47 nomes há 27 novidades, o que para alguns denota razia preocupante e para outros um saudável rejuvenescimento.
É uma lista que não cedeu à tentação de premiar autarcas em fim de mandato, o que tem tanto de discutível – sobretudo para os que contavam como certa a recompensa - como de diferenciador, quando comparada com a opção coligação PSD/CDS.
Contudo, é uma lista que padece da mesma vertigem da direita na municipalização do parlamento regional ao incluir como trunfo, e em 2.º lugar, Sancha Campanella que é vereadora da oposição na CMF, embora o partido prefira realçar que a independente é advogada e vice-directora geral do ISAL.
É uma lista que não respeita as actuais lideranças de duas estruturas importantes do partido. O presidente da JS não é o primeiro jovem da lista da mesma forma que a presidente das Mulheres Socialistas não é a primeira mulher da lista.
É uma lista que geograficamente vira costas à Costa Norte, remetendo para lugares de eleição duvidosa os nomes de Porto Moniz, que só surge em 21.º, São Vicente (22.º) e Santana (24.º). É certo que os três concelhos desprezados por tantos representam poucos votos no todo, mas a afronta era dispensável.
É uma lista sem quadros saídos das poucas sessões dos Estados Gerais realizados pelo partido, não se vislumbrando um “governo sombra”, como foi evidente em 2019, mesmo que aparentemente todos os coordenadores do programa eleitoral tenham sido contemplados.
A lista é o que se sabe. Mas não é tudo. Se os escolhidos são ou não capazes de fazer “diferente, mais e melhor” caberá ao povo sábio e soberano decidir na hora certa.