Jornada Mundial da Juventude País

Peregrinos celebram igreja "mais aberta" e que "não quer abafar o passado"

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Foto Leonardo Negrão

Os caminhos da Jornada Mundial da Juventude desembocam hoje no Parque Eduardo VII de Lisboa para milhares de peregrinos que esperam levar destes dias uma mensagem de "inclusão" de um Papa que tornou a igreja "mais aberta" e tolerante.

Bandeiras de todo o mundo e de todos os continentes começaram a ondular no Parque Eduardo VII desde o início da tarde, nas mãos de grupos que foram enchendo o relvado central, em frente do palco onde às 19:00 se celebra a missa de arranque da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Os idiomas e os sotaques são múltiplos, mas há respostas bastante consensuais e imediatas à pergunta sobre a motivação para viajar até Lisboa para a JMJ: "conhecer jovens de outras culturas" e "partilhar a fé" num "momento de união" entre pessoas que pertencem à mesma Igreja.

O ambiente é de festa e alegria, uma marca que os jovens peregrinos que falaram hoje com a Lusa no Parque Eduardo VII associam ao Papa Francisco.

Depois das respostas imediatas, e perante questões sobre a situação da Igreja e do mundo, os participantes na JMJ de Lisboa sublinham que Francisco está a "reinventar" a Igreja e a torná-la "mais aberta". Há também quem lembre que o Papa publicou recentemente uma encíclica com preocupações ambientais ou que tem assumido problemas dentro da própria instituição, como os abusos sexuais por membros do clero.

"Não queremos abafar o passado e os erros do passado, e queremos construir um melhor futuro", diz L., uma peregrina de 17 anos do Algarve, que prefere não revelar o nome, a propósito dos abusos sexuais na Igreja.

A seu lado, C., de 27 anos e também do Algarve, "gostava que houvesse uma mensagem de inclusão" nesta JMJ por parte do Papa, que "é muito especial".

As brasileiras Maiara Silva, 25 anos, e Laura Verona Bet, 21, profissionais na área das relações públicas e da publicidade, reconhecem que a mensagem e o espírito da JMJ está centrado "na fé" e "na partilha" da experiência de participar no maior evento da Igreja Católica, que reúne jovens de todas as partes do mundo, mas sublinham que esta é "mais do que uma viagem de turismo".

Maiara destaca que o Papa tem uma mensagem aos jovens "de impulso", de "desafio para saírem das suas zonas de conforto", de "se levantarem e irem em frente" e considera que, por causa disso, a tomada de consciência em relação aos problemas do mundo, como a guerra, "a sustentabilidade do planeta" ou as desigualdades "acaba por ser uma consequência do encontro".

"Os jovens saem tocados de alguma maneira", afirma, confiante em que depois há uma ação no dia a dia de quem passa pela JMJ contaminada pelo espírito de partilha e alegria do encontro.

Também Tobias Shumba, do Zimbabué e pela terceira vez peregrino numa JMJ, diz que "o grande mérito" destes encontros é o espírito "de alegria" e otimismo, que faz com que os jovens regressem a casa "focados" e com a certeza de que "há futuro para todos".

Sara Fontes, enfermeira em Viseu de 35 anos, está na JMJ de Lisboa com um grupo de 31 jovens e não esconde a emoção e a alegria de participar num encontro destes e num momento em que a Igreja está "mais disponível e mais aberta a novos desafios, a novas oportunidades e a pessoas diferentes" do que há 17 anos, quando começou a dar catequese.

"O Papa Francisco está a fazer um caminho fantástico" e a Igreja "tem tendência para mudar cada vez mais, o que é positivo", afirma esta catequista que espera que o grupo que trouxe a Lisboa regresse a casa, "acima de tudo", com uma experiência de "amor, partilha e solidariedade entre eles".

Nas suas aulas de catequese Sara transmite sobretudo "o respeito" que tem de haver entre todas as pessoas e assegura que os jovens católicos com que contacta têm entre as suas preocupações, essencialmente, "a poluição" e o meio ambiente, "a relação uns com os outros" e agora também a guerra, por causa da situação na Ucrânia.

Com o mesmo grupo está o padre Paulo Vicente, de 31 anos, que já esteve em outras duas JMJ e que sabe que de uma experiência destas saem "momentos de fé", "experiências de troca de culturas" e, sobretudo", um sentimento de "todos diferentes, mas todos numa só pessoa, Jesus".

"Todos são bem-vindos sem exceção", acrescenta, para sintetizar a mensagem da JMJ.

Da JMJ de Lisboa espera que saia uma "mensagem de esperança" num momento de guerra na Europa, além do "desafio de fé" do Papa para os jovens.

Sobre Francisco, realça a recente encíclica sobre o ambiente e como esta JMJ incorporou preocupações relacionadas com a sustentabilidade.

"Cada Papa veio no tempo certo", defende, sublinhando que no caso de Francisco, é um Papa da América Latina com uma marca de alegria cujo sucesso não seria possível "se antes não tivesse havido um Bnto XVI", o primeiro líder da Igreja que, lembra o padre Paulo Vicente, abordou, por exemplo, a questão dos abusos sexuais dentro da instituição.

"Se não houver uma plantação antes não se colhem frutos", explica o jovem padre Paulo Vicente.

A JMJ é um encontro de jovens de todo o mundo com o Papa Francisco e decorre de hoje até dia 06 de agosto em Lisboa, onde são esperadas mais de um milhão de pessoas.