Estou como as orcas, sem pachorra para certas pessoas

Estou como as orcas, que, segundo os cientistas, estão a se fartar da raça humana e a atacar iates que se atravessam no seu caminho. No meu caso, não diria propriamente da raça humana, mas de alguma da raça humana, e sem violência planeada, mas com uma indignação cada vez mais aumentada face a certos comportamentos e atitudes, sobretudo dos seres que pensam que são os únicos inteligentes à face da Terra e que os outros são uns burros, dos que pensam que são mais importantes do que os outros, dos que pensam que os outros têm memória curta e dos que pensam que podem fazer e dizer o que lhes apetece.

Vem este introito a propósito do relatório da Comissão de Inquérito à TAP, mas não se refere apenas à comissão ou a outras comissões. Mas, tem origem principal no despautério que consiste o relatório (?!) da deputada socialista Ana Paula Bernardo, que não contente com o autêntico milagre que fez, que foi o de conseguir isentar o Governo da República de culpas na indemnização a Alexandra Reis, ainda “esqueceu” as peripécias em torno de João Galamba e de um ex-adjunto por parte do Serviço de Informações de Segurança (SIS).

Ou seja, para o PS a tutela não teve culpa, nada se passou e a culpa foi apenas da, entretanto, despedida Christine Ourmières-Widenerhristine, a presidente da TAP que era fantástica mas que deixou de o ser quando foi preciso arranjar um “bode expiatório” para a crise.

É de uma audácia, de um desplante enorme, avançar-se com um relatório destes. E levá-lo à discussão em sede de Assembleia da República ainda é mais aviltante. Se for aprovado pela maioria socialista, como de certeza o será, estaremos perante mais uma machadada no crédito da democracia.

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já disse que tomará uma posição após a discussão no parlamento e saber o sentido da votação dos partidos com assento parlamentar. Logo se verá se será mesmo assim….

Mas, estou igualmente curioso para saber qual é a reação do líder socialista cá do burgo em relação a este relatório. Perante um relato, esse sim fidedigno do que foi dito em sede de comissão, Sérgio Gonçalves avançou com queixa no Tribunal acerca de eventuais “obras desnecessárias” (ainda não percebi o que ele entende por obras desnecessárias nem quais são essas obras desnecessárias). O que pensará então de um relatório como este, que deturpa o que lá se disse, que conclui pela ignorância do que se passou efetivamente e que omite factos? É caso para Justiça?! De certeza que dirá que não: a postura subserviente em relação a tudo o que se passa no retângulo não faz esperar outra coisa.

Sérgio Gonçalves e outros da entourage que o acompanham (cada vez mais reduzida, que todos já perceberam no que as eleições regionais vão dar e ninguém quer ficar colado a um perdedor) são da estirpe da deputada socialista Ana Paula Bernardo. Têm a mesma escola, a mesma submissão aos interesses socialistas em detrimento do que importa verdadeiramente à população, o mesmo desprezo pela verdade.

Senão vejamos a forma como ignoram o atraso do Governo de Costa no pagamento das comparticipações da obra do novo Hospital, como fogem a defender o direito à Região a ser ressarcida das verbas que todos os meses adianta para os subsistemas de saúde das forças militares e de segurança destacadas na Região, como não defendem o reforço dos poderes legislativos da RAM ou o seu direito a definir um regime fiscal próprio ou ainda como abaixam a cabeça e fecham os olhos a injustiças como o programa Regressar ou o passe sub-23, para já não falar do estropício que é este programa +Habitação ou do insulto que é a falta de apoio à Universidade da Madeira.

Estou, portanto, como as orcas, farto de certos humanos, daqueles que colocam os seus interesses e dos partidos em que militam à frente de tudo e de todos.

Ângelo Silva