Mundo

Director da AIEA satisfeito com plano japonês para libertar água radioativa de Fukushima

Foto  JEON HEON-KYUN/POOL/AFP
Foto  JEON HEON-KYUN/POOL/AFP

O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) declarou-se, na quarta-feira, satisfeito com os planos do Japão para libertar água radioativa tratada no Oceano Pacífico, apesar da polémica que os envolve.

A declaração de Rafael Mariano Grossi foi feita depois de se inteirar, no local, da situação da central nuclear de Fukushima, destruída por um sismo e um maremoto.

Grossi observou para onde a água tratada vai ser enviada, através de um aqueduto para uma instalação na costa, onde vai ser diluída com água salgada, e recebeu uma amostra de um teste final. A água vai depois ser libertada a um quilómetro da costa através de um túnel submerso.

"Estou satisfeito com o que vi", disse Grossi, depois de ver o equipamento na unidade para a pretendida descarga, que o Japão pretende começar este verão. "Não vi questões pendentes", reforçou.

A libertação desta água suscita oposição dentro e fora do Japão.

Ao início de quarta-feira, Grossi reuniu-se com autarcas e líderes de associações de pescadores e realçou que a AIEA vai estar presente durante a descarga da água, que deve demorar décadas, para garantir a segurança e responder às preocupações dos residentes.

Revelou que vai ser organizada uma presença permanente da AIEA na central, para demonstrar o seu compromisso de longo prazo.

A descarga da água não é "um qualquer plano estranho que foi concebido apenas para ser aplicado aqui e vos ser proposto", disse Grossi, durante a reunião em Iwaki, 40 quilómetros a sua da central. Adiantou que o método está certificado pela AIEA e é aplicado em outros locais do mundo.

A AIEA, no seu relatório final sobre o plano de Fukushima, divulgado na terça-feira, conclui que a água tratada, que ainda contém uma porção pequena de radioatividade, é mais segura do que os padrões internacionais e o seu impacto ambiental e na saúde das pessoas vai ser negligenciável.

As organizações locais de pesca rejeitaram o plano, porque se preocupam com o impacto na reputação, mesmo que as suas capturas não estejam contaminadas.

O plano tem ainda a oposição de grupos sul-coreanos, chineses e de algumas ilhas do Pacífico, tanto por razões de segurança como políticas.

Grossi deve deslocar-se também à Coreia do Sul, à Nova Zelândia e às Ilhas Cook, para aí procurar reduzir a preocupação. O seu objetivo, detalhou, é explicar o que a AIEA está a fazer para garantir que não há problemas.

Para procurar reduzir as preocupações quanto à pesca e ao ambiente marinho, Grossi e Tomoaki Kobayakawa, o president da opwradora da central, Tokyo Electric Power Company Holdings, assinaram um acordo para um projeto conjunto que visa determinar o impacto que o trítio, o único radionuclídeo que os técnicos asseguram que não pode ser removido da água pelo tratamento, possa ter.

Na Coreia do Sul, dirigentes do governo declararam na quarta-feira que é muito improvável que a água libertada tenha níveis preocupantes de contaminação.

Já a China repetiu as suas objeções à libertação da água, em comunicado divulgado na terça-feira, acusando a AIEA de não refletir todos os pontos de vista e o Japão de tratar o Oceano Pacífico como uma lixeira.

Um sismo e um maremoto, ocorridos em 11 de março de 201, destruíram os sistemas de arrefecimento da central, o que provocou a fusão de três reatores e a contaminação da água para arrefecimento, que tem estado em escorrimento permanente. A água tem estado a ser recolhida, tratada e armazenada em cerca de mil tanques, que vão atingir a sua capacidade no início de 2024.

Depois de se reunir com Grossi, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, disse que o Japão vai continuar a dar "explicações detalhadas baseadas em evidências científicas, com um elevado grau de transparência, tanto interna como externamente".