ONU verificou 2.334 violações de vários tipos contra 1.482 crianças na Ucrânia em 2022
A Organização das Nações Unidas (ONU) constatou 2.334 violações de vários tipos contra 1.482 crianças na Ucrânia no ano passado, segundo o relatório anual do secretário-geral, António Guterres, apresentado quarta-feira.
De acordo com os dados da ONU, um total de 92 crianças foram usadas pelas forças armadas russas (91) e ucranianas (1) como escudos humanos (90), como reféns e para tarefas domésticas (1) e para recolha de informações (1).
As Nações Unidas verificaram ainda a morte ou mutilação de 1.386 crianças atribuídas às forças armadas russas e grupos armados afiliados (658: 136 mortos, 518 mutilações), às forças armadas ucranianas (255: 80 mortes, 175 mutilações) e outros perpetradores não identificados (473: 261 mortes, 212 mutilações), cujos ataques foram feitos, maioritariamente, por via aérea.
"A maioria das vítimas infantis resultou do uso de armas explosivas com efeitos amplos a nível de área e munições explosivas", aponta o relatório hoje apresentado no debate anual do Conselho de Segurança da ONU sobre crianças e conflitos armados.
"Violações sexuais (1) e outras formas de violência sexual (2) perpetradas contra três meninas com idades entre 4 e 17 anos foram verificadas e atribuídas às forças armadas russas na região de Kiev e na região de Chernihiv", diz o texto.
No entanto, as "informações não representam toda a escala de violações contra crianças, uma vez que a verificação depende de muitos fatores, incluindo o acesso", frisa o documento.
O mesmo relatório aponta que, a nível global, a ONU verificou 27.180 violações graves contra 18.890 crianças no ano passado, com a morte, mutilação, recrutamento e sequestro a serem as situações registadas em maior número.
Desse total de violações graves, 24.300 foram cometidas em 2022 e 2.880 anteriormente, mas verificadas apenas no ano passado.
Durante a reunião do Conselho de Segurança, a maioria dos diplomatas classificou como "chocantes" os números do relatório, e países como França, Estados Unidos e Reino Unido destacaram o papel da Rússia na violência contra crianças durante a invasão da Ucrânia.
"Pela primeira vez, um membro permanente deste Conselho, a Federação Russa, é listado por mais de 1.200 violações graves contra crianças. Uma listagem baseada em dados robustos da ONU que representa a ponta do iceberg. Só existe uma solução para acabar com o sofrimento das crianças ucranianas: acabar com a invasão ilegal da Rússia", disse a embaixadora britânica, Barbara Woodward.
As Forças Armadas russas e grupos armados "afiliados" já haviam sido incluídos na "lista da vergonha" da ONU sobre violações dos direitos da criança em conflitos, pelas suas ações na Ucrânia.
Face a essas acusações, o representante permanente da Rússia junto à ONU, Vasily Nebenzya, alegou que "esses casos de supostas violações" não podem ser verificados.
Por sua vez, o embaixador ucraniano, Sergíy Kyslytsya, observou que os números verificados não refletem a real dimensão e volume dessas violações, frisando que invasão russa da Ucrânia afetou todas as 7,5 milhões de crianças ucranianas.
"Quase dois terços desse total foram deslocados interna ou externamente", disse Kyslytsya.
De acordo com o diplomata, a "Ucrânia tem fortes motivos para acreditar que várias centenas de milhares de crianças ucranianas foram levadas à força e ilegalmente pela Rússia, com muitas a serem ainda mantidas contra a sua vontade".
As convicções do embaixador ucraniano são partilhadas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu um mandado de captura contra o Presidente russo, Vladimir Putin, por ser o "presumível responsável" pela deportação ilegal de menores ucranianos para a Rússia e pelo seu transporte de zonas ocupadas da Ucrânia para território russo, o que representa um crime de guerra.