Moscovo anuncia investigação criminal a agressão à jornalista Elena Milachina
A Federação Russa anunciou quarta-feira a abertura de uma investigação criminal depois de a jornalista de investigação Elena Milachina, do jornal independente Novaia Gazeta, ter sido agredida na terça-feira, na Chechénia.
Milachina cobre as violações dos direitos humanos na Chechénia, uma república russa no Cáucaso, dirigida desde há anos, com mão de ferro, por Ramzan Kadyrov, um antigo chefe de guerra. Repórteres e ativistas são aqui agredidos com frequência.
O Novaia Gazeta é um dos raros bastiões da imprensa livre na Federação Russa. O seu chefe de redação, Dmitri Mouratov, recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2021.
Este indicou hoje que a jornalista "tinha sido transferida para um hospital em Moscovo". Como detalhou, Milachina "foi agredida selvaticamente com bastões e eles [os agressores] partiram-lhe os dedos, procurando obter a palavra-chave do seu telemóvel".
As imagens da jornalista, de 45 anos, no hospital, com os braços envolvidos em ligaduras, os cabelos rapados em parte pelos agressores e o rosto com um líquido verde, circularam em todo o mundo e criaram indignação.
O Comité de Investigação russo, encarregado dos crimes mais graves, indicou em comunicado que ia abrir uma investigação criminal por golpes e ferimentos "moderados" e "ligeiros" depois da agressão a Milachina e a um advogado, Alexander Nemov, que a acompanhava. Este foi esfaqueado, segundo o Novaia Gazeta.
Os inquéritos oficiais a sério sobre as violações dos direitos humanos na Chechénia são muito raros.
Perante a mobilização dos militantes dos direitos humanos e de políticos russos a denunciar a agressão, Kadyrov disse que tinha "solicitado aos serviços competentes que fizessem tudo para identificar os agressores".
Mas o ministro da Informação checheno, Akhmed Doudaiev, depois de acusar sem provas "os serviços secretos ocidentais" de serem os responsáveis pela agressão, criticou Milachina por ter "insultado ao longo de anos" as forças chechenas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, já disse que o presidente russo, Vladimir Putin, tinha sido informado deste ataque "muito grave, que necessita medidas vigorosas".
Em vídeo divulgado pela imprensa na noite de terça para quarta-feira, a jornalista descreveu os detalhes da agressão, de que foi vítima com Nemov, que a acompanhava a Grozny para assistir ao processo de Zarema Moussaieva, a esposa de um antigo juiz federal, que se tornou opositor de Kadyrov.
"Fomos seguidos desde a descolagem do nosso avião" em Moscovo, disse a jornalista, conhecida pelas suas publicações sobre as execuções extrajudiciais na Chechénia.
À chegada, o seu táxi "mal fez 500 metros" antes de ser bloqueado. Foram retirados do veículo por uma quinzena de pessoas, que os levaram para uma vala onde foram "agredidos metodicamente", descreveu, sentada na cama do hospital.
"Queriam a palavra-passe para terem acesso ao meu telemóvel" e "ameaçaram cortar-nos os dedos", detalhou.
Acrescentou ainda que o seu colega foi esfaqueado e que a ela os atacantes "raparam (a cabeça), depois aspergiram com 'zelionka'", um antissético cirúrgico, que tem sido utilizado contra opositores russos nos +últimos anos e que ainda lhe cobre a cara, o pescoço e as mãos.
Em fevereiro de 2022, Elena Milachina teve de sair temporariamente da Federação Russa, segundo o seu jornal, depois das ameaças que lhe foram feitas por Kadyrov, que a classificou como "terrorista".