Este país não é para velhos...
Acho que estou velha, que passei o prazo há vinte anos. Por outras palavras, fiquei idosa para ser perdoada pela amnistia da visita Papal, mas o Estado diz que sou muito nova para me reformar. O que me provoca dois sentimentos: de tristeza, porque não me perdoam multas por não ter menos de trinta anos. De alegria por ainda ir a tempo de me inscrever no V Congresso Internacional da Felicidade, que decorre em Lisboa, de 29 de Setembro a 1 de Outubro. Já que se perdoa por sectores, devíamos aproveitar a inscrição. Tem mais de 40 palestras e reúne pessoas de vários países. E melhor, pode-se assistir online e residir em qualquer lugar do mundo. Óptimo. Não preciso sair de casa. E não corro o risco de não aterrar na Madeira, como aconteceu a metade do Grupo Parlamentar do PS na semana passada. Não há como sentir na pele o que não se vota à distância.
Gostaria de chamar a atenção do Estado para o facto de existirem vários congressos este ano no nosso país, que reúnem pessoas de todo o mundo (e até pode ser online) e pedir o favor de queimarem as multas de estacionamento, o uso do telemóvel ao volante, penas leves que andam por aí a apregoar que vão ser perdoadas aos pequenos.
Está também a decorrer a partir de hoje o Congresso Internacional de Engenharia e Sustentabilidade no Século XXI. Mas é no Algarve. O que cria um problema. Só os engenheiros que praticaram crimes menores da Via do Infante para baixo é que terão perdão das multas?
E já agora, expliquem-me como se eu tivesse cinco anos… se um dia houver um congresso internacional de feministas só perdoam as multas das mulheres? Qual a idade limite, para eu ver se estou dentro do prazo?
A decisão é anedótica. Caímos no ridículo de perdoar pela idade e não pelo crime. Afinal, ser apanhado sem carta aos 31 anos é muito mais grave do que se apanhado sem carta aos 30. Devia dar pena suspensa aos 32, cadeia aos 33 e expulsão do país aos 34. Mas para se efetivarem essas decisões teria de haver menos greves no sistema judicial.
Uma boa medida seria perdoar as multas aos funcionários judiciais de olhos azuis e cabelo louro. E depois perdoar aos administrativos das autarquias. Nas mulheres, só teriam perdão aquelas que usassem roupa que deixasse o ombro esquerdo à mostra. E nos homens, a amnistia chegaria apenas aos que, sei lá, vissem melhor ao perto do que ao longe.
Estou a ver se me chega qualquer coisa. Mas tenho medo que antes disso tenham amnistiado as mentes brilhantes que se lembraram desta aberração legislativa que coloca dúvidas até aos próprios constitucionalistas. Concluo que, inspirado num dos melhores êxitos cinematográficos do século XXI, “Este País não é para Velhos”. Tirem-me deste filme.