JMJ “Laboratório de futuro”
Aí estão as tão propaladas Jornadas Mundiais da Juventude. Passados meses de polémicas, suspensões e criticas, tão típicas da nossa cultura e que por diversas vezes ofuscaram a verdadeira razão e importância do acontecimento, eis que é chegado o momento da realização do evento. Muito foi dito por estes tempos. Do atraso nas obras aos custos excessivos , financiados em parte pelo Estado e Autarquias, dos ajustes diretos que levantaram dúvidas, ao famosos palco. De tudo um pouco se foi falando e como é hábito, cá no burgo, muitas vozes se levantaram para esmiuçar a real mais valia e a necessidade de um apoio estatal. Assim foi também o Túnel do Marquês, o Centro Cultural de Belém, a Web Summit e tantos outros, uns por umas razões outros por outras e que regra geral têm acabado por se entranhar depois de se estranhar até mais não. Será justo cada um ter a sua opinião, como é evidente, e a mim não me compete analisar parte das críticas feitas nem tão pouco tenho estudos para isso, embora reconheça que certos procedimentos possam suscitar à partida algumas questões pertinentes.
O que me parece que não pode ser posto em causa é a importância destas Jornadas para Portugal e o facto de sermos um estado laico, não confessional, onde prevalece a liberdade de religião e crença, mesmo assumindo o principio da separação Estado/Comunidades Religiosas, não choca com a primeira afirmação. Aqui não se coloca em causa a própria religião em si, nem será fundamento sério o facto de terem sido conhecidos há bem pouco tempo certos casos de abusos na igreja católica. É importante sabermos separar as coisas mesmo que por esta altura seja moda bater na igreja. De uma forma objectiva estamos a falar de mais de um milhão de jovens que visitam o nosso país e que ao contrário do que se falava não se cingem à próxima semana, nem a Lisboa. Nos últimos dias temos percebido que muitos deles já por cá se encontram , espalhados pelas diversas dioceses, com um sem número de eventos e atividades de norte a sul e que alguns ainda por cá permanecerão uns dias depois de terminadas as cerimónias.
É por isso difícil de encontrar um evento à escala mundial onde estivessem tantos olhos postos em nós. Não é só o milhão de jovens que nos visitam, são os familiares que acompanham ao longe e os mais de um bilião de trezentos mil católicos espalhados por esse planeta fora. São mais de quatro mil jornalistas oriundos de mais de cem países acreditados e um retorno estimado em mais de quinhentos milhões de euros, segundo um estudo recente. Estamos a falar de jovens que representam o presente e o amanhã. Que serão os turistas do agora mas sobretudo do futuro e que melhor oportunidade que esta para lhes deixarmos uma excelente recordação para que possam voltar, quem sabe um dia, com as suas famílias e os seus amigos? O bispo de Leiria-Fátima, o madeirense José Ornelas, considerou esta semana, que a JMJ é um “laboratório de futuro, o sonho de um mundo novo, mais capaz de cuidar do planeta, mais fraterno, mais solidário, mais em paz”. Acho esta frase absolutamente marcante para o que há-de vir e que encaixa de forma perfeita no que desejamos que seja o sucesso desta empreitada.
Numa altura em que o Mundo parece dividido e partido, onde a guerra na Ucrânia vai vitimando cada vez mais inocentes, onde os recentes casos de abusos sexuais na igreja lançam um clima de suspeição e de revolta e em que vamos assistindo um pouco por toda a parte a uma crise de valores, Portugal pode e deve ser ( mais uma vez ) um mensageiro da paz, que une povos e que constrói pontes. É isso que espero destas jornadas. Que possam ser esse laboratório de futuro e que independentemente da religião ou da fé de cada um , possa este encontro ser um espaço de abertura e de profundidade, onde todos se possam encontrar na capacidade de amar o outro, de ser altruísta e de nos respeitarmos como irmãos. Por todos estes motivos acho sinceramente que estas jornadas encerram em si uma importância imensa e que fizemos muito bem em apoiá-las e que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que corram da melhor forma possível. É a nossa imagem, a nossa reputação que está em jogo e logo nós que dependemos tanto dessa mensagem de paz e segurança como cartão de visita para o Turismo. Que o Papa Francisco saiba liderar todos estes jovens e que nós ( com todos os nossos defeitos e com todas as críticas ) estejamos à altura do acontecimento.