As cantigas de amor e as de amigo; que são de escárnio e maldizer
António Costa veio à Madeira repetir o mesmo registo de vindas anteriores. Desta vez, não saltou nem prometeu (o ferry) aos saltinhos, tentou ser mais comedido, mas não consegue fugir à encenação. A frustração é maior do que o controlo e então desata com frases feitas, com um autêntico “canto de tritão” (não lhe chamo de sereia por razões óbvias), quase como se de um poeta se tratasse a declamar “cantigas de amor” à sua amada.
Tal e qual trovador dos antigos, enuncia, ao jeito das Cartas de Amigo, que os madeirenses nem sempre gostam do PS, mas que o PS gosta sempre dos madeirenses (e dos porto-santenses gosta?). Uma Carta de Amigo que se revela, logo à partida, falsa e que esconde uma Carta de Escárnio e Maldizer.
Porque, se o PS gosta tanto dos madeirenses porque é que vai tentando “empatar” a obra do novo Hospital”?
Se o PS gosta tanto dos madeirenses porque é que não assume, de uma vez por todas, os custos com os subsistemas de saúde?
Se o PS gosta tanto dos madeirenses porque é que não estende o programa Regressar à Madeira ou tenta acabar com os Vistos Gold que vêm dando importantes lucros à economia madeirense?
Se o PS gosta tanto da Madeira porquê é que não aceita uma nova Lei de Finanças Regionais que permitiria à Madeira ter a sua própria Lei Fiscal e aplicar uma carga fiscal, às pessoas e às empresas, mais justa para as famílias e mais potenciadora de riqueza para todos?
Se o PS gosta tanto da Madeira, porquê é que não paga o passe sub-23 ou porque não tem uma política justa para com a Universidade da Madeira?
Se o PS gosta tanto da Madeira porque é que não confia nos seus responsáveis e permite à Assembleia ter poderes reforçados, que lhe permitam mais Autonomia e mais Desenvolvimento Sustentado?
Se o PS gosta tanto da Madeira, porque é que não regulariza dinheiros prometidos aquando dos acidentes naturais e dos incêndios, mas que nunca cá chegaram?
O que António Costa veio à Madeira dizer foi o mesmo que gozar connosco. Porque todos sabemos que nem ele nem o PS de lá (o tal que os socialistas de cá endeusam e que tão subservientemente lidam) gostam de nós! Não nos perdoam as sucessivas derrotas. E as que doem mais até são as de 2019 (porque estavam convencidos de que Paulo Cafôfo iria ganhar) e a de 2022, onde a Madeira foi a única região do País que escapou ao mar rosa, com o PSD a continuar à frente.
Portanto, para ser sério, o que António Costa deveria dizer era: “da mesma forma que os madeirenses raramente gostam de nós, nós também raramente gostamos dos madeirenses!».
E, já agora, sabe porquê é que os madeirenses não gostam do PS? Porque não gostam de quem os trata mal, de quem lhes mente, de quem lhes deve, de quem os discrimina em relação a outras regiões, inclusive em relação aos Açores.
E também porque preferem confiar em quem sempre os defendeu, em quem sempre fez tudo para lhes dar uma melhor vida e em lhes dar o orgulho de poderem dizer que são Madeirenses: o partido que os governa desde 1976, ultimamente acompanhado pelo CDS.
Ai dos madeirenses e dos porto-santenses se estivesse à espera do PS e dos seus governos nacionais para avançar. Ainda estava no mesmo ponto em que se encontravam em 1976, submissa ao colonialismo lisboeta, atrasada e submissa. Enfim, como o PS e António Costa gostariam…
Ai sim! Aí o PS gostaria da Madeira e dos Madeirenses. Porque nos poderia submeter, dominar tal e qual faz com os seus congéneres de cá!
Ângelo Silva