É preciso ter cautela para evitar legislar muito cedo o metaverso
A fundadora e presidente executiva da organização XRSI considera, em entrevista à Lusa, que deve-se ter cautela para evitar legislar "muito cedo" e garantir a adaptabilidade à natureza evolutiva do metaverso, universo virtual que tenta reproduzir a realidade.
A X Reality Safety Intelligence (XRSI) é uma organização com sede em São Francisco, nos Estados Unidos, e em Torino, Itália, considerada líder mundial dedicada a fornecer serviços de inteligência e consultoria vitais para proteção e o bem-estar dos ecossistemas de tecnologias emergentes.
Kavya Pearlman é apelidada de "guardiã cibernética", um rótulo que lhe foi atribuído quando as pessoas começaram a perceber que estava a proteger duas economias virtuais no Linden Lab, em 2018.
"Desde então, muita coisa mudou na indústria de tecnologia e muitos outros avanços estão a ocorrer numa taxa exponencial. Tudo isso me faz sentir um imenso senso de responsabilidade para encontrar todas as formas possíveis de salvaguardar o ecossistema tecnológico emergente", conta à Lusa.
"Mais especificamente, estamos passando da pós-verdade para a era da pós-realidade de captura constante da realidade e estou preocupada com 'Humans in the loop' e 'Society in the loop', que tradicionalmente não tem sido uma parte abordada sobre os riscos associados às tecnologias. Como uma 'guardiã cibernética', isso é algo em que passo muito tempo a ajudar a descobrir como podemos consciencializar todas as partes interessadas, incluindo cidadãos globais, sobre os riscos e desafios que estão prestes a enfrentar devido aos novos avanços tecnológicos em ritmo acelerado ritmo".
Questionada como regular o metaverso, um universo que não existe, Kavya Pearlman refere que isso ainda "está no seu estágio inicial" e apresenta "desafios únicos".
O metaverso é um universo virtual que tenta reproduzir a realidade e utiliza tecnologias como a realidade virtual e a realidade aumentada e onde é possível criar um avatar, falar com pessoas, jogar, fazer compras entre outros.
Certas questões das vidas digitais, como a privacidade de dados, segurança e concorrência, "podem ser amplificadas no metaverso, tornando vitais" as considerações iniciais sobre regulação, prossegue.
"Os regulamentos digitais existentes da UE, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), podem aplicar-se indiretamente ao metaverso, sugerindo que alguma infraestrutura regulatória já está em vigor", aponta.
No entanto, "deve-se ter cautela para evitar legislar muito cedo e garantir a adaptabilidade à natureza evolutiva do metaverso. A regulamentação também precisa considerar a colaboração internacional, dada a natureza global da tecnologia e a necessidade de proteção e privacidade do consumidor", defende Kavya Pearlman.
Assim, aprender com a regulamentação com tecnologias que se desenvolvem rapidamente como a inteligência artificial (IA) uma abordagem semelhante "pode ser benéfica para o metaverso", dedicando tempo para desenvolver regulamentações maduras que possam adaptar-se ao ritmo previsto de mudança.
No essencial, a questão "não é sobre a necessidade de regulamentação, mas sim sobre o seu tempo e metodologia"
APDC e XRSI estabelecem parceria para enfrentar "desafios do metaverso" em rápida evolução
A parceria entre a XRSI e a APDC visa enfrentar "os desafios do metaverso em rápida evolução", diz, em entrevista à Lusa, a fundadora e presidente executiva da fundação, Kavya Pearlman, que elenca ainda cinco estratégias para Portugal.
"A parceria entre a XRSI e a APDC foi criada para enfrentar os desafios do metaverso em rápida evolução, com foco em questões como a segurança cibernética, segurança e privacidade", afirma Kavya Pearlman.
Ao incentivar as organizações a abordar "estas questões com responsabilidade, pretendemos promover uma cultura de uso seguro e ético da Internet", assevera.
O metaverso é um universo virtual que tenta reproduzir a realidade e utiliza tecnologias como a realidade virtual e a realidade aumentada e onde é possível criar um avatar, falar com pessoas, jogar, fazer compras entre outros.
Kavya Pearlman, que participou no último congresso da APDC, salienta que esta colaboração "é voltada para a promoção de um futuro digital seguro, inclusivo, democrático" e dirigido para os direitos humanos, "com o objetivo de impactar positivamente a saúde socioeconómica das regiões e moldar as decisões políticas sobre segurança em XR, IA [inteligência artificial], computação espacial e outras tecnologias emergentes".
A chave da estratégia coletiva é copromover recursos educacionais, organizar eventos, criar programas de formação e ajudar as organizações na condução de atividades comerciais éticas e responsáveis no metaverso, diz.
Essencialmente, "a parceria XRSI-APDC é um apelo à ação para profissionais de media, tecnologias de informação e telecomunicações se unirem nos esforços de criar um metaverso mais seguro e positivo", sublinha.
Questionada sobre como pode Portugal promvoer a privacidade e segurança nas tecnologias em Portugal, Kavya Pearlman refere que "promover a privacidade e a segurança nas tecnologias é um desafio multifacetado que requer uma abordagem abrangente", apontando algumas estratégias que o país poderia considerar.
Entre elas está a legislação e regulamentação: "Portugal, como membro da UE, já é regido pelo RGPD para proteção de dados e privacidade, no entanto, o país pode desenvolver regulamentos adicionais localizados que atendam a necessidades específicas ou áreas não cobertas pela legislação em toda a UE", diz.
Esses regulamentos "podem definir padrões de privacidade e segurança no desenvolvimento e uso de tecnologia e fornecer mecanismos para aplicação e reparação em caso de violações", salienta aquela que é considerada 'cyber guardian' [guardiã cibernética].
Outra das estratégias são as parcerias público-privadas.
"Portugal pode fomentar parcerias entre o Governo, a indústria e o meio académico para promover a investigação e inovação em tecnologias seguras e de preservação da privacidade. Essas parcerias podem levar ao desenvolvimento de tecnologias domésticas que priorizam a privacidade e a segurança do utilizador desde o início, atendendo às necessidades específicas do mercado profissional de onde provêm".
Depois, defende a necessidade de "aumentar a conscientização sobre a importância da privacidade e segurança entre o público em geral e dentro das organizações é crucial"
Isto pode ser feito através de eventos dedicados, programas de formação e educacionais, 'workshops' e campanhas que alertem sobre tema e "garantir que os indivíduos e empresas entendam o valor da privacidade e da segurança", o que promove melhores práticas e impulsiona a procura por tecnologias mais seguras.
Outra estratégia para Portugal apontadas por Kavya Pearlman são incentivos para práticas seguras, em que o Governo os pode facultar "às empresas que demonstrem um forte compromisso com a privacidade e a segurança".
Estes incentivos, salienta, "podem ser na forma de isenções fiscais, subsídios ou programas de reconhecimento".
Por último, infraestruturas de cibersegurança: "Portugal deve investir em infraestruturas robustas de cibersegurança para proteção contra ameaças à segurança, incluindo as decorrentes da utilização de tecnologias relacionadas com o Metaverso".
De acordo com Kavya Pearlman, "isso inclui estabelecer agências de cibersegurança dedicadas, investir em tecnologias de ponta de defesa cibernética e criar uma força de trabalho qualificada capaz de se defender contra ataques cibernéticos sofisticados que utilizam essas tecnologias".
Assim, ao implementar estas estratégias (cinco), "Portugal pode criar um ambiente onde a privacidade e a segurança são priorizadas no desenvolvimento e uso de tecnologias. Na verdade, é aqui que a XRSI espera ajudar a fornecer a orientação e o conhecimento necessários", remata.