Nesta semana, o conselheiro das comunidades madeirenses nos Estados Unidas da América, Leonel Teixeira, afirmou que tinham sido exportados dezenas de barris de Vinho Madeira para aquele país, no âmbito de uma festa ‘madeirense’. Mas, afinal, a Região continua a exportar Vinho Madeira a granel?

Verifiquemos o que foi afirmado e o que acontece, por partes.

Leonel Teixeira explicou que este (Estados Unidos) é o único sítio do Mundo para o qual é exportado Vinho Madeira em barril, sublinhando que a Madeira concedeu uma autorização especial ao clube organizador das festas para que o vinho pudesse ser exportado para lá a granel. “Nós estamos a falar de 15 a 20 barris de vinho, cada barril leva 250 litros, sendo todo ele consumido nesta festa.”

A afirmação de Leonel Teixeira, no âmbito da realização de mais uma festa, tem ligeiras imprecisões, que não põem em causa o essencial do que disse.

De facto, a exportação referida é a única em que o Vinho Madeira é exportado a granel, para ser vendido como Vinho Madeira, mas há mais exportações a granel para outros fins, como a integração em produtos de culinária ou até farmacêuticos.

Como nos informou o Governo Regional, foi concedida uma licença excepcional para a exportação de 32 barris, num total de 7.200 litros de Vinho Madeira, no âmbito da realização da Festa do Santíssimo Sacramento, em New Bedford. Foi também exportado Vinho Madeira em garrafas.

O exportador foi a empresa Justinos. O pedido para autorização excepcional foi realizado em Abril e a exportação aconteceu em Junho. Cada autorização excepcional, por não se encontrar no âmbito das autorizações comuns, como para os referidos fins farmacêuticos e/ou culinários, entre outros, tem de acontecer todos os anos.

Dois milhões de euros exportados até final de Junho

A exportação de Vinho Madeira para os Estados Unidos atingiu no primeiro semestre deste ano, 117,4 mil litros, correspondentes a dois milhões de euros (1.962.365,02 euros).

Em todo o ano passado, foram exportados para aquele mercado 202 mil litros de vinho, com um valor de 3,4 milhões de euros (3.431.007 euros).

Proibido o granel para engarrafar desde 2002

Durante a história do Vinho Madeira e até ao final de 2001, houve sempre exportação a granel.

Em especial, no anos 80 e 90 do último século, foram crescentes as vozes a defenderem a necessidade de a Madeira passar a exportar o vinho engarrafado, em detrimento de a granel. Essa medida visava, por um lado, defender a qualidade (evitando alterações do produto) e, por ouro, garantir que as mais-valias ficassem na Madeira e não nos locais externos, onde eram engarrafados.

Uma portaria de Maio de 2001, assinada pelo antão secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais, Manuel António Correia, veio concretizar essa medida, ao determinar: “A partir do dia 1 de Janeiro de 2002, fica interdita a exportação a granel do v.l.q.p.r.d. vinho da Madeira, para todos os mercados.”

“A título excepcional, poderá ser autorizada a exportação a granel, para qualquer mercado, com destino à indústria agro-alimentar e de outros produtos de prestígio, desde que o mesmo seja objecto de modificação que o impeça ser identificado e comercializado como v. l . q . p . r.d. vinho da Madeira.”

“Cabe ao Instituto do Vinho da Madeira aplicar as medidas administrativas necessárias à emissão das autorizações previstas no artigo anterior, com base em Despacho Normativo a emitir pelo Secretário Regional da tutela.”

De então até ao presente, houve algumas alterações nas regras, mas o essencial mantém-se: a exportação de Vinho Madeira acontece apenas em garrafas, excepto nas situações já referidas.

A proibição da exportação a granel também veio corresponder a exigências resultantes da adesão de Portugal à então designada de Comunidade Económica Europeia.

Exportação a granel atinge 26%

Apesar da política de exportação em garrafa para a comercialização do produto como Vinho Madeira, a venda a granel ainda atinge uma quantidade significativa.

De acordo com os dados divulgados pela DREM – Direcção Regional de Estatística da Madeira – com base nos elementos “fornecidos pelo IVBAM - Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, IP-RAM, a comercialização de vinho da Madeira, rondou os 3,1 milhões de litros no ano de 2022”.

“Do total comercializado, 74,2% corresponderam a vinho engarrafado, vendido em média a 8,29 euros/litro (7,25 euros/litro no ano de 2021). O restante vinho foi vendido a granel a um preço médio de 2,72 euros/litro (mais 0,04 euros/litro que em período homólogo).”