Fact Check Madeira

Será que todos os resgates nas serras em 2023 foram em áreas proibidas?

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Foto DR/SRS

O Secretário Regional da Saúde e Protecção Civil afirmou, ontem: “Todos os resgates, que fizemos ao longo do ano de 2023, foram resgates de pessoas que estavam em zonas proibidas, nas serras da Madeira.” Mas será isso verdade?

Um dos instrumentos de consulta obrigatória, para aferir o rigor das palavras do governante, é o diploma que criou o Parque Natural da Madeira, em Novembro de 1982. Na sequência desse Decreto Regional, como então se designava, 67% da ilha da Madeira passaram a ser parque natural.

O documento é muito claro ao definir zonas de reserva natural integral, "cujo acesso só será autorizado para fins de estudo e investigação científica".

No conjunto dessas áreas incluem-se as reservas naturais integrais: do Lombo Barbinhas; do Montado dos Pessegueiros; do Pico Casado; do Caldeirão Verde; da Ribeira Seca (da Fajã da Nogueira); e do Ilhéu do Desembarcadouro.

No entanto, toda a área de Parque Natural da Madeira tem sofrido alterações nas regras que a protegem e gerem, através de vários diplomas legais. Por exemplo, foram criadas Zonas Especiais de Protecção (ZEP) ou aprovados dos Planos de Ordenamento e Gestão e respectivos Regulamentos para a Laurissilva da Madeira, Maciço Montanhoso Central, Ponta de São Lourenço, entre outros.

Vejamos um caso concreto. O Caldeirão Verde, que no decreto regional de 1982, está classificado como área de reserva natural integral, actualmente é um espaço muito frequentado por madeirenses e turistas, sem qualquer condicionante. É inclusivamente uma área com pelo menos um percurso recomendado (PR9 - Levada do Caldeirão Verde).

Ainda assim, na análise à veracidade das palavras do governante, consideremos a realidade mais restrictiva, do ponto de vista legal e as referidas reservas integrais e o que aconteceu nesta semana.

Quando, ontem, Pedro Ramos falou, fê-lo nas sequência de mais um desaparecimento de um turista nas serras da Madeira.

Um homem de nacionalidade checa perdeu-se nas serras de São Vicente e foi encontrado no Montado dos Pessegueiros. Trata-se um local/percurso não recomendado, um local integrado numa das reservas. Aliás, durante anos, o percurso esteve encerrado e trancado a cadeado, junto à foz da Ribeira do Inferno, mas há muito tempo que isso deixou de acontecer.

Neste caso, pode-se considerar que o resgate aconteceu numa área proibida.

Helicóptero a caminho da costa Norte para 'resgate' de turista checo

O homem que estava desaparecido há vários dias foi encontrado no final desta quinta-feira nas serras que ladeiam a Ribeira do Inferno

Na véspera, na quarta-feira, uma mulher teve de ser resgatada na vereda do Pico do Areeiro, num percurso recomendado e sem restrições de acesso.

Resgate em curso de mulher ferida no Pico do Areeiro

Está a decorrer o resgate de uma mulher, com cerca de 50 anos, que sofreu uma queda, no início desta tarde, na vereda que liga o Pico do Areeiro ao Pico Ruivo.

Muitos outros exemplos de resgates realizados em áreas não proibidas e até em percursos recomendados poderiam ser dados, como na Ponta de São Lourenço, no Rabaçal, onde, inclusive nesta semana, houve um óbito.

No entanto, o secretário regional da Saúde e Protecção Civil também deixou um apelo, que em nada é beliscado pelo facto de não haver zonas proibidas nas serras da Madeira. “Não vão para os trilhos que não estão recomendados (…). Não ultrapassem as barreiras de proibição para determinadas áreas onde podem pôr a sua vida em risco.”

O que, eventualmente, Pedro ramos terá querido dizer é que todos os resgates realizados nas serras da Madeira, neste ano, foram em locais/percursos não recomendados, o que também não é completamente verdade, como o demonstra o resgate de uma mulher na vereda do Pico do Areeiro, no dia 26.

Assim, é falso que todos os resgates realizados em 2023, nas serras da Madeira, tenham sido em áreas proibidas.

“Todos os resgates, que fizemos ao longo do ano de 2023, foram resgates de pessoas que estavam em zonas proibidas, nas serras da Madeira”