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Não tinha acabado a escravatura em Portugal?

Segundo os arquivos históricos da Torre do Tombo, a escravatura em Portugal teve fim em 1761, mais propriamente a 19 de setembro de 1761. Nesses documentos, está escrito: “Alvará com força de lei determinando que os escravos pretos que forem trazidos da América, África e Ásia, passado o tempo que menciona, sejam considerados livres logo que cheguem aos Portos deste reino, sem outra formalidade mais que passarem-lhes nas respetivas alfândegas, a competente certidão de terem nelas entrado”.

Ora, parece que a coisa já não é bem assim para os lados da saúde do retângulo… Parece que os “escravos de bata branca, que forem trazidos para o Serviço Nacional de Saúde, passado o tempo de faculdade, sejam considerados escravos logo que cheguem aos hospitais públicos, sem outra formalidade mais que passarem-lhes a exclusividade pública, associada à baixa remuneração e às trezentas e cinquenta horas extraordinárias ”.

Ora vamos lá trocar isto por miúdos… O ministro da saúde, no meio das bizarrias da sua temida antecessora, achou que realizar contratos de exclusividade com o Serviço Nacional de Saúde, de quarenta horas semanais (das quais dezoito seriam de urgência), fora as trezentas e cinquenta horas extraordinárias, a troco de um acréscimo de menos de setenta euros no final do mês, seria uma ideia cuja genialidade está ao nível das teorias de Einstein!

Vá lá que desistiu da ideia de promover a estagiário, os médicos internos. Já viu o que era dizer que “são os estagiários (em vez de “médicos internos”) quem segura a saúde em Portugal”? Ficava mal…

Quanto à saúde pública, ficou ali quietinha e paradinha… Nem uma proposta… deve ter passado ao lado.

Exclusividade num Serviço Nacional de Saúde doente, trabalhando quarenta horas semanais (os médicos são os únicos funcionários públicos com mais de trinta e cinco horas semanais obrigatórias) das quais dezoito são em ambiente de urgência; realizar trezentas e cinquenta horas extraordinárias (são quase nove semanas extra de trabalho); com diminuição do horário de descanso, coloca em risco a saúde do médico… e a sua!

Se pensa que estas propostas não o afetam… pense novamente. Imagine ser atendido por médicos ainda mais cansados. Acha que a capacidade de raciocínio de alguém que trabalha durante doze, dezoito, vinte e quatro horas seguidas, é excelente? Acha que os erros médicos devido a cansaço são raros? E acha que esses erros não lhe poderão pôr a vida em risco?

Agora coloque-se do nosso lado. Estaria motivado se fosse obrigado a trabalhar catorze a quinze dos doze meses do ano?.. em regime de exclusividade?... a troco de mais cerca de setenta euros no final do mês?

Estão a brincar com a saúde portuguesa… estão a brincar com a minha, com a sua, com a nossa saúde! Estão a eutanasiar um serviço nacional de saúde abandonado numa cama de hospital… Os médicos merecem mais respeito e mais condições! A saúde em Portugal merece mais respeito e mais condições! O serviço nacional de saúde merece ser priorizado e seriamente pensado!