Visita aos cartazes
Dois amigos que, quanto em quem votar estão indecisos, resolveram se juntar e dar uma olhadela nos cartazes a ver se estes os podiam ajudar.
Vejamos o diálogo entre os amigos que após a visita aos cartazes ficaram mais esclarecidos:
- Olha aquele ali. É tempo de mudar a Madeira. Penso que deve ser brincadeira.
- Não partilho a tua opinião. Antes pelo contrário, considero extraordinário. Mudar a Madeira, mais para baixo, mais para junto das Desertas, acho uma ideia muito certa.
- Estás pensando nos ventos do aeroporto, que dia menos dia podem “dar no porco”?
- Exatamente. Estás a ver como és inteligente. A Madeira um pouco mais para baixo colocada, o aeroporto pode fugir daquela turbulência danada.
- Bem visto, sim senhor, quem teve aquela ideia merece um louvor. É algo que temos de pensar na hora de votar.
- Olha outro cartaz ali com uma ideia muito boa. Ir votar ao Chão da Lagoa!
- Desculpa lá, pá, mas o cartaz não diz para votar, se bem que, como está junto dos outros, seja da mesma coisa que estejam a falar.
- Claro que é, evidentemente, e se reparares já é a vinte e três deste mês, não posso perder tempo. Vou falar em casa aos meus filhos, noras, genros, netos e, naturalmente, à “patroa” e vamos todos ao Chão da Lagoa. Fazemos os nossos votos antecipados, quando chegar ao dia das eleições já não precisamos de lá ir, temos os votos descarregados.
- Se assim for, acho que é de aproveitar, sim, senhor.
- E quem é aquele senhor Toy que está acolá, naquele lado, bem escarrapachado?
- É um cantor de prestígio, pode fazer presidente de mesa de voto e cantar nos tempos livres.
- Nós somos uns ases. Já viste como valeu a pena termos vindo ver os cartazes.
- É verdade. E penso que vamos ter ainda mais motivos de felicidade.
- Olha, naquele cartaz está tudo explicado. Pela liberdade de votar em qualquer lado!
Está mais que visto, amigo Evaristo. Posso ir com toda a família, incluindo, claro está, a minha “patroa”, votar no Chão da Lagoa!
- Claro, se entre os cartazes há alguma ligação, tens toda a razão.
- Vê ali outro cartaz. Só que, muito sinceramente, não entendo bem aquela “conversa”. Viver melhor na nossa terra.
Graças a Deus, já muito bem vivemos, porque não nos contentarmos com aquilo que temos?
- Pois, amigo, mas isso é defeito já da nossa natureza. Temos a maldita mania das grandezas.
- Olha aquele cartaz, ali amarrado, junto à ponte do mercado. Não sei o que aquilo quer dizer à “ malta “. Bloco faz falta.
- Segundo a minha ideia, tem a ver com a Assembleia. Há quem já não possa ouvir os senhores deputados e quem não goste do Senhor Presidente, mas para cerrar portas e janelas um só Bloco não é suficiente.
- Bom, seja lá como for, meu amigo, nós estamos mais esclarecidos. Vamos ao Chão da Lagoa votar, que deve haver comer, beber, e música para dançar.
- E queres saber, meu amigo, os votos deviam ser no interior dos partidos. Nas suas sucursais, nas suas sedes, e quem fosse votar tinha direito a comes-e-bebes. Se fosse de manhã ficava para almoçar, se fosse na parte da tarde tinha direito a jantar.
- Talvez tenhas razão e seria a melhor forma de acabar com a abstenção.
- Ir votar e voltar para casa com a barriga vazia, não tem nada a ver com a democracia.
Juvenal Pereira