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Sobre os padres do Pombal. Convivência e Reflexão

Eram quatro os padres católicos, João da Cruz, Rufino, Lino Cabral e Sidónio. Escolheram viver em comunidade, numa casa modesta na rua do Pombal aqui na Madeira.

Eram cidadãos que defendiam a liberdade religiosa e política, defendiam a democracia contra a tirania fascista, combatiam a guerra colonial. Nenhum crente ou cristão devia defender a guerra nem as torturas e as prisões.

O seu lema era a Paz na Terra, do Papa João XXIII, a importância da Encíclica que defendia a ligação aos fiéis e a participação democrática na vida cívica.

João da Cruz, o intelectual, lúcido e audacioso do grupo era professor de francês no Liceu e o coordenador dos debates no C.C.O (Centro de Cultura Operária) conjuntamente com o juiz Neto, o Melon, o Leopoldo Gonçalves e eu próprio, queríamos uma sociedade mais justa.

Os quatro do Pombal (o último a chegar foi o Sidónio) não estavam numa redoma de vidro a rezar a DEUS. Na sua casa passaram o padre Paquete, o padre Jardim Gonçalves ainda hoje aglutinador de muitos comprometidos com a libertação dos homens, aqui na terra, e o Padre Araújo, pároco do Carmo.

A Fernanda Pereira, enfermeira parteira ia dar formação sobre educação sexual e preparação para o parto à paróquia com a convite do Padre Araújo.

Eu tinha a minha mãe mal sabia ler e escrever era a parteira dos pobres e por essa via aprendi o que era a mulher submissa e os filhos apareciam como nascem os coelhos...

Seriam estes padres subversivos? Sim eram contra a política Salazarista e colonialista.

Sim foram homens e padres coerentes, que determinaram a sua vida pela sua consciência, correndo riscos de suas vidas e sem o apoio do Bispo do Funchal.

Foram heróis? Receberam medalhas? Não!

Uns já partiram, estão na outra margem. Os que ainda estão vivos continuam a defender a democracia e a liberdade.

Após o 25 de Abril, os fascistas madeirenses, hoje transformados em democratas e autonomistas, tentaram matar os padres e outros progressistas através das bombas da FLAMA.

Não restou outra alternativa aos padres, deixaram a «ilha prisão» e partiram para o exílio em Lisboa, onde os encontrei e passaram a ser membros da minha família alargada.

Estes homens defensores da classe operária e dos colonos contra os senhorios tiveram de partir, noutras paragens continuaram a lutar pela justiça social.

A malta do Pombal, era do povo, da igreja de Cristo, não das vestes douradas e dos anéis deslumbrantes.

Convivi com Rufino e João da Cruz de 1965 a 1972, depois estive na guerra colonial e participei ativamente no processo de descolonização de Moçambique vindo reencontrá-los em 1976.

Vivia-se o conflito Leste/Oeste, a perseguição aos padres, processo de descolonização, aqueles que denunciavam a tortura dos patriotas africanos, foi a perseguição ao bispo Resende da Beira, ao bispo Vieira Pinto de Nampula, ao padre Pinto de Andrade apoiante do MPLA.

Em Portugal tínhamos o padre Alberto da Capela do Rato, o Padre Felicidade Alves dos Jerónimos, o padre Fanhais (o padre operário das cantigas) e tantos outros perseguidos pela PIDE e pelo Cardeal Cerejeira (o grande amigo de Salazar).

Os padres do Pombal e os católicos progressistas assinaram a Carta ao governador em 1969, exigindo eleições livres.

A tenebrosa PIDE estava em todo o lado. Tenho conhecimento de um relatório, onde um familiar de um dos padres referidos, detalhava os encontros do seu irmão sempre que este vinha à Madeira.

Por curiosidade Felicidade Alves casou-se pela Igreja católica sendo celebrante deste compromisso o Patriarca Policarpo e o Rufino casou-se com a Augusta sendo compromisso/sacramento com a participação do padre Jardim.

Os católicos portugueses mereceram o respeito de Cunhal. No Manifesto de 1942 sob o tema «de mão estendida aos católicos» é dada a garantia do PCP que no Portugal democrático lhes era garantido a liberdade religiosa.

Cunhal criticava o espírito anticlerical e era contra as posições sectárias.