Aquele sabor a Verão…
É indiscritível a simples sensação da chegada do Verão, do significado e da leveza de um mergulho no mar, como se só existíssemos nós e uma imensidão de água que nos tranquiliza e nos transporta para sensações únicas. Não tenho ideia se é assim com toda a gente, sei aliás que para vários amigos meus o Inverno é sempre uma estação mais acolhedora, introspectiva e calma e talvez por isso a preferiram ao invés da azáfama do calor. A mim que nasci em pleno Agosto sempre me fez mais sentido viver com os dias mais longos e em que as noites nos permitem andar na rua com aquela sensação vagabunda de que podemos tudo e que o frio não entra sequer no vocabulário. A minha passagem pelo Brasil mas sobretudo por Moçambique criou em mim a habituação térmica elevada, que nem sempre ajuda a trabalhar mas que nos faz sentir mais felizes com pouco, em que precisamos de coisas mais simples para nos sentirmos bem e que nos faz pensar se precisamos assim de tanto para estarmos como gostamos.
Acho sinceramente que as pessoas mais felizes regra geral vivem com o mar como paisagem. Aprendemos a dar-lhe valor com o tempo, esse carrasco que nos ensina mas que também nos determina. Não é por isso um absurdo quando ouvimos dizer que um mergulho “lava a alma”. A proximidade com a água acalma e o barulho dela relaxa como poucos sons o fazem. Às vezes podemos achar que falar sobre política ou economia, sobre a guerra ou o estado do Mundo nos torna mais interessantes e inteligentes, que se tivermos só discussões sérias sobre temas pesados nos coloca num patamar intelectual diferente e que darmos valor ao que sentimos e expressarmos para os outros aquilo que parece mais superficial faz de nós gente mais básica e com pouca capacidade para analisar o que nos rodeia. Não consigo pensar dessa forma. Há tempo para tudo, um tempo para pensar, um tempo para amar, para refletir e discutir sobre a complexidade da vida mas também há seguramente um tempo para aproveitarmos aquilo a que usualmente alguém resolve chamar de futilidades mas que de fútil tem muito pouco.
O facto de certos momentos nos transportarem para algumas emoções que percorrem a nossa história passada, que nos recordam com saudade a magia das férias ou do tempo passado em família, naqueles verões intermináveis que nos pareciam soldar os pés à felicidade, têm muito pouco de passageiros, de pouco interessantes ou de efémeros. Esses são precisamente os que ficam para sempre e sempre é o máximo de tempo que podemos levar uma memória tatuada no coração. Os outros sim, são temas efémeros, passageiros, que mudam conforme as diversas dinâmicas e dialéticas da vida. Sim importantes, que nos constroem a evolução e nos fazem mais astutos e preparados mas é na narrativa dos sentidos, do que sentimos, do que nos fazemos uns aos outros que fica marcada de forma indelével a nossa estrutura emocional. Uns serão reconhecidos pelo seu percurso profissional, pela capacidade que tiveram em inventar ou desenvolver algo que produziu os seus efeitos para o mundo girar. Mas sempre ficaremos registados pelo que fazemos na tentativa de nos entregarmos a quem mais gostamos e do fio que vamos desenrolando para que os bons momentos se sobreponham ao menos bons.
É por isso que digo sempre que somos todos colecionadores de momentos, nem todos gostaremos dos mesmos, seguramente, mas procuramos sempre a perfeição no exato segundo em que o passamos. No final da nossa história, seremos sempre mais, quantos mais momentos perfeitos colecionarmos. Os que passámos nos verões da nossa infância, os que tentamos também nós proporcionar aos mais novos e os que continuamos a não abdicar de gozar, ficam para lá do firmamento, assim como um simples e seguro mergulho no mar com o sal a criar ondas no cabelo e aquele inigualável sabor a Verão.