A Europa como miragem!
A UNICEF estima que por semana, desde o início do ano, morreram 11 crianças na tentativa de alcançarem a Europa e que desde 2018 morreram mais de 1500 crianças afogadas no Mediterrâneo. Uma dessas crianças é Muhammad Abuzar que pareceu quando a traineira (com capacidade para 100 pessoas) se afundou, próximo da Grécia, com mais de 700 pessoas a bordo, tendo somente sobrevivido cerca de 100 pessoas (as autoridades estimam que mais de 100 crianças tenham falecido).
Muhammad era uma criança paquistanesa de 14 anos que ao ver e sentir a miséria que vivia na sua aldeia natal sonhou ter e dar aos seus uma melhor vida se conseguisse encontrar trabalho na Europa. O Pai, condutor de autocarros que ganha menos de 100 € por mês, tem muita dificuldade em sustentar a família com 4 filhos, mas opôs-se à concretização do sonho do filho.
A partida prevista de um Tio na tentativa de chegar à Europa foi o motivo que levou Muhammad a pressionar o Pai para o autorizar e pagar a quantia necessária aos traficantes para o levarem junto com o Tio. O Pai acabou por vender a casa onde vivia para pagar acreditando no traficante que lhe disse que com o dinheiro que o Muhammad e o Tio iriam ganhar num ano logo teria dinheiro para comprar 10 casas.
A viagem foi de avião do Paquistão para o Dubai, depois para o Egipto, terminando num voo para a Líbia, onde se dirigiram ao porto para apanhar o barco que os levaria à Europa. A CNN apresentou vários vídeos de Muhammad durante a sua viagem – vemos uma criança que aparenta menos de 14 anos, feliz a tentar divertir os irmãos para os quais buscava melhor futuro. Na última mensagem disse que não se preocupassem, pois, tinham coletes salva-vidas, mas que rezassem por ele.
Temos fotos do barco superlotado antes do naufrágio … assim terminou o sonho de uma criança de 14 anos que não sabia que as crianças de 14 anos na Europa não trabalham… são Crianças!
Com a necessidade que a Europa tem de jovens e de trabalhadores não se compreende que se continue a aceitar que as pessoas, entre elas muitas crianças, arrisquem a vida e morram afogadas – onde está o caráter humanista que nos diferencia como Europeus? Para muitos destes migrantes a Europa converteu-se numa miragem.
Relembro que na década de 1960 Portugal celebrou acordos com a França, Holanda e Alemanha para a colocação de trabalhadores portugueses nestes países. Porque não a Europa fazer acordos com os países de origem dos emigrantes de modo a os legalizar antes da partida, garantindo a segurança das pessoas e os seus direitos humanos?
Se não exista uma figura jurídica que possibilite este tipo de legalização, estude-se a melhor forma de proteger as pessoas. Nenhuma destas pessoas que arrisca a sua vida é menos humano que nós.
A continuarmos como estamos, muitas crianças irão morrer ao fazer a travessia com o sonho da Europa na mente. Morte essa que nas palavras do Pai de Muhammad “é pior do que morrer de fome!”