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Presidente israelita avisa no Congresso dos EUA que críticas podem ser antissemitismo

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Foto: EPA/Andy Rain

O Presidente israelita defendeu ontem a democracia no seu país perante o Congresso norte-americano, apesar da controversa reforma judicial, que mereceu amplas críticas internas e no estrangeiro, alertando aqueles que visam Israel do risco de caírem no antissemitismo.

"Não sou insensível às críticas entre amigos, inclusive as expressas por respeitados membros desta câmara", disse o chefe de Estado israelita, Isaac Herzog, num discurso perante as duas câmaras do Congresso reunidas em sessão plenária.

"Mas as críticas a Israel não devem ir tão longe a ponto de negar o direito de existência do Estado de Israel. Questionar o direito do povo judeu à autodeterminação não é diplomacia legítima, é antissemitismo", acrescentou, recebendo muitos aplausos dos eleitos norte-americanos.

Herzog é uma figura respeitada com um papel essencialmente cerimonial, mas mais consensual e abrangente do que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, líder de um dos governos mais à direita da história do país.

No entanto, a sua visita aos Estados Unidos causou alguma agitação dentro do Partido Democrata, do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

Democratas eleitos denunciaram a "deriva" democrática em Israel, bem como a continuação da colonização dos territórios palestinianos ocupados.

Alguns boicotaram o discurso do Presidente israelita, e nove votaram na terça-feira contra uma resolução aprovada pela Câmara de Representantes, de maioria republicana, condenando o antissemitismo e garantindo o apoio inabalável dos Estados Unidos a Israel.

A resolução foi submetida a votação pelo líder republicano da Câmara de Representantes, Kevin McCarthy, em resposta à democrata Pramila Jayapal, que recentemente chamou Israel de "Estado racista".

Sob pressão, a política acabou por se retratar e pedir desculpa, mas os republicanos exigem que ela seja afastada da liderança do grupo parlamentar progressista na câmara baixa do Congresso norte-americano.

A visita de Herzog ocorre num momento em que milhares de israelitas se mobilizam quase diariamente para denunciar o projeto de reforma judicial levado a cabo pelo Governo de Netanyahu, visto como uma ameaça à democracia, ao limitar os poderes dos magistrados face às decisões políticas, e que Washington observa com preocupação.

O Presidente dos Estados Unidos, que recebeu Herzog na Casa Branca no dia anterior, exortou hoje novamente o Governo de Telavive a não "apressar" as suas reformas e a proceder com cautela.

"Encontrar um consenso sobre assuntos politicamente polémicos requer o tempo necessário. Para mudanças significativas, isso é crucial. A minha recomendação aos líderes de Israel é, portanto, não apressar" a reforma, afirmou Joe Biden, citado num editorial do jornal The New York Times.

Durante a sua visita de dois dias aos Estados Unidos, Isaac Herzog não deixou de elogiar a força da democracia no Estado judaico, sem negar as dificuldades.

No seu discurso no Congresso, voltou a falar de um "debate intenso" no seu país, "o mais claro tributo à fortaleza da democracia israelita".

"Embora enfrentemos problemas dolorosos, tal como vocês, sei que a nossa democracia é forte e resiliente. A democracia está no ADN de Israel", declarou.

A sua visita, numa altura em que Israel comemora seu 75.º aniversário, foi uma oportunidade para Washington destacar o seu apoio ao seu reconhecido aliado, o que Herzog saudou.

Herzog também falou do seu "profundo desejo" de alcançar a paz com os palestinianos, ao mesmo tempo que considerou as celebrações de ataques terroristas contra israelitas "moralmente vergonhosas" e pediu à comunidade internacional que atue contra o Irão, "o maior desafio", segundo considerou, para Israel e os Estados Unidos.

Após o seu discurso no Congresso, Herzog deve encontrar-se com os membros eleitos do grupo parlamentar Abraham Accords, criado no ano passado como apoio à normalização das relações entre Israel e alguns países árabes, assunto que também mereceu uma posição favorável no seu discurso.