Jornada vai trazer "algo de novo" com foco na vocação universal de Portugal
Com a cobertura de 13 jornadas mundiais da juventude, a jornalista da Rádio Renascença Aura Miguel, especialista em assuntos religiosos, não tem dúvidas de que a Jornada de Lisboa, em agosto, trará "algo de novo".
"Tenho para mim que, se o Papa sai de casa para ir a esses sítios [locais das jornadas], alguma coisa nova vai acontecer. Eu estou à espera de que haja alguma coisa nova, interessante, a acontecer em Lisboa, porque acho que Lisboa tem imenso potencial, é completamente diferente das outras cidades onde houve as outras jornadas", diz Aura Miguel em entrevista à agência Lusa.
A jornalista destaca, nomeadamente, a proximidade de Portugal a África.
"Nós temos esta vocação universal. A nossa identidade fez-nos mestiços e, portanto, temos esta abertura, aliás, basta passearmos por Lisboa para perceber isso", afirma, acrescentando estar convicta de que "essa dimensão pesou muito para a escolha da JMJ aqui", recordando que uma das alternativas a Portugal era a Suécia.
"O argumento para vir para Lisboa terá passado pela proximidade de África e a abertura ao outro lado do Atlântico", admite Aura Miguel.
Já quanto aos desafios com que os jovens -- são esperados mais de um milhão dos cinco continentes -- serão confrontados em Lisboa, o Papa já começou a desvendá-los no prefácio que escreveu para o último livro da jornalista, "Um Longo Caminho Até Lisboa".
Nesse texto, "ele dá imensas dicas de novidade e a novidade também tem a ver com uma coisa que o preocupa e que já vem desde as últimas duas [JMJ] a falar nisso, que é [o facto de] os jovens não abraçarem a realidade, ficarem filtrados por ecrãs, pelo virtual", diz Aura.
"Os chamados 'nativos digitais', os jovens do nosso tempo, correm diariamente o risco de se auto isolarem, de viverem grande parte da sua existência no ambiente virtual, acabando por ficar reféns de um mercado agressivo que induz a falsas necessidades", escreve Francisco, convidando os jovens a viverem "experiências fortes de escuta e de oração unidas a momentos de festa e fazê-los juntos".
E como será Lisboa com mais um milhão de jovens durante uma semana? Aura não tem dúvidas de que será muito positivo.
"Tenho a experiência de outras cidades. Em vários recantos, em vários sítios, há imensa escolha, há palcos que são montados, há momentos de música, há momentos dentro das igrejas, às vezes para maior reflexão, ou música clássica ou até conferências, ou momentos de oração. Há para todos os gostos e a cidade está toda envolvida. Acho que causa [uma sensação] um bocadinho forte (..), mas é um caos organizado, no bom sentido, portanto, há muita vida", afirma a jornalista.
Aura Miguel sublinha que "há jovens por todo lado, mas vão sempre com alguém. São grupos que têm alguém sempre a quem seguir. (...) É muito interessante, porque estão divertidíssimos, mas têm a quem seguir e isso é que faz que um milhão de jovens não criem atritos".
A jornalista assegura nunca ter visto "relatos de problemas, comas alcoólicos, violências", o que se deverá à organização e preparação existente desde que é anunciada a jornada.
"É divertido e vai estar tudo cheio. Lembro-me que em Roma não cabiam. O momento de saudação do Papa é sempre na cidade. Aqui vai ser no parque Eduardo VII. Em Roma não havia uma praça onde coubesse toda a gente que já lá estava. Teve de haver dois momentos de saudação, um para os italianos e outro para o resto do mundo, um na Praça de São João de Latrão e outro na Praça de São Pedro", recorda.
E o que leva um milhão de jovens a sair de casa, muitas vezes a milhares de quilómetros, para vir a um encontro destes?
"Acho que é a intuição original de João Paulo II, que sempre dizia que tinha uma opção preferencial pelos jovens. Foi ele que inventou as jornadas e ele tinha esta experiência de padre e bispo, e depois cardeal na Polónia, de levar a sério as inquietações dos jovens", diz Aura Miguel.
Tendo em conta a sua experiência, aponta a explicação: "O homem tem um desejo enorme no seu coração, de plenitude. Muitas vezes não sabe explicar bem, mas tem sempre um desejo de mais, desejos grandes. Os jovens têm isso à flor da pele (...), desejos grandiosos de beleza, de verdade, de bem, e muitas vezes esbarram com os adultos, que dizem: 'ainda não sofreste o suficiente, quando cresceres, vais ver'. Wojtyla dizia: 'é para levar a sério esse vosso desejo'. Ele esforçava-se por reuni-los e dizer 'isso está certo. Esses desejos (...) são mesmo para levar a sério'".
"Quando foi eleito Papa, logo no primeiro Angelus, [João Paulo II] disse: 'estou profundamente convencido de que se Deus me trouxe até aqui, é para que agora se reflitam a nível mundial as minhas intuições pastorais'. E ele, de facto, tinha uma preferência pelos jovens, além de ser muito divertido, furava os protocolos e falava com os jovens sempre que podia".
Sobre o que se pode esperar para o pós-JMJ, Aura Miguel afirma que "esse é o grande mistério".
"A João Paulo II perguntaram-lhe isso, 'e agora?' 'Eu não preciso de saber. Eu lanço a semente, depois, os tempos da colheita e o que se passa no coração de cada um, isso só Deus é que sabe'", recorda Aura Miguel, afirmando que gosta sempre de se surpreender, o que a leva a acreditar que o que Francisco dirá em Lisboa será de algo "fresco".
"Não é mais do mesmo, de certeza, (...) precisamos do sangue novo dos jovens e da frescura deles. Acho que o próprio Papa também precisa disso e gosta imenso de se encontrar [com os jovens], é sempre um momento de entusiasmo, que faz bem ao Papa", diz a jornalista que, como recorda Francisco no prefácio do seu livro, acompanhou todas as JMJ até agora realizadas, menos a primeira, em Buenos Aires, precisamente a única em que Bergoglio participara antes de eleito Papa.