Oposição critica branqueamento das responsabilidades do Governo e omissões do relatório
As críticas ao branqueamento das responsabilidades governativas e omissões do relatório do inquérito à TAP foram hoje reiteradas pela oposição, considerando o presidente da comissão que esta "silenciou quem a pretendia reduzir a mero instrumento de luta político-partidária".
O plenário do parlamento apreciou o relatório final da comissão parlamentar de inquérito à gestão política da TAP, que tinha sido aprovado em comissão apenas pelo PS na semana passada, com todos os restantes partidos a votar contra.
Com a "sensação de dever cumprido", o presidente da comissão, o socialista António Lacerda Sales, subiu ao púlpito e disse: "não esperem que venha aqui dizer que não valeu a pena porque valerá sempre a pena quando está em causa o esclarecimento de quem nos elege".
"Esta comissão contrariou expectativas e desmentiu vaticínios, silenciou quem a pretendia reduzir a mero instrumento de luta político-partidária", enfatizou.
Porque a comissão de inquérito "encerra agora, mas a TAP não", Lacerda Sales defendeu que "é tempo de virar a pagina, aprender com os erros, reconhecer o mérito do que está bem, definir e afinar as rotas e colocar a companhia aérea a voar cada vez mais alto", uma intervenção muito aplaudida não só pelo PS.
Pelo PSD, Paulo Moniz considerou que "ficou provada que a ingerência do Estado nas diversas áreas e em todos os momentos e por todos os meios foi ostensivamente constante e continuada", criticando a conclusão no sentido contrário presente no relatório.
"O caso Alexandra Reis foi apenas um sintoma daquilo que é a prática do PS: interferência, domínio e capitulação, numa lógica do poder pelo poder, num deserto de visão a longo prazo onde a responsabilidade não habita", criticou.
Em sentido contrário, Bruno Aragão, coordenador do PS, defendeu que "contra argumentos não houve factos e isso vê-se pela forma como quase sempre as perguntas se transformaram em respostas", lamentando ainda o "tom acusatório" e as "várias linhas vermelhas foram ultrapassadas" por alguns partidos nas audições.
"Factos são factos e o PS votou favoravelmente esta relatório e isoladamente e este é um exemplo do que pode ser o rolo compressor da minoria. Em 79 conclusões, o PS votou isoladamente 18", referiu.
Usando as palavras do socialista, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, acusou o PS de ter decidido "tirar os factos deste relatório", dando como exemplo as responsabilidades de João Galamba ou as reuniões com a ex-CEO da TAP.
"Esta é a arrogância do PS, a arrogância de quem acha que no Governo tudo pode e que na Assembleia da República tudo silencia", condenou, sublinhando a importância do BE ter proposto esta comissão de inquérito e que a TAP "deve ser pública" e não privatizada.
Pelo Chega, o deputado Filipe Melo afirmou que não é porque o deputado do PS veio ao parlamento "declarar poesia" que se apaga a reunião com a ex-CEO ou "o triste episódio no Ministério das Infraestruturas", considerando que não é por isso que o PS vai "conseguir enganar os portugueses" num "relatório falacioso".
Já a IL, por Bernardo Blanco, referiu que os "portugueses ouviriam muitos factos, o problema é que esses factos não estão no relatório, foram censurados", considerando que todo o país viu uma comissão de inquérito "e o PS, com os seus óculos cor-de-rosa, viu outra".
O liberal acusou o PS de ter tapado os olhos sobre muitos temas "com o objetivo claro de não permitir a António Costa que retirasse conclusões do relatório, nomeadamente a demissão de João Galamba".
Pelo PCP, Bruno Dias explicou que a principal razão do voto contra foi porque o relatório se recusou a retirar a conclusão dos custos para a TAP das sucessivas privatizações e de um conjunto de operações que nunca deviam ter acontecido.
"O relatório deveria concluir (mas não conclui), pelo que se tornou claro nos trabalhos da CPI: que é preciso reverter, de forma imediata, todos os roubos cometidos contra os trabalhadores da TAP, e reconstruir a capacidade operacional da empresa", enfatizou.
Livre e PAN, cujos deputados únicos não tiveram assento na comissão e voltaram a criticar esse facto, também foram críticos de um relatório que faz o branqueamento das responsabilidades do Governo.