Zapatero e outros protagonistas da campanha que não vão a votos
O ex-primeiro-ministro de Espanha José Luis Zapatero tornou-se numa das figuras da campanha eleitoral em curso no país, com uma agenda mais preenchida do que a do atual líder dos socialistas e do Governo, Pedro Sánchez.
Mas há outros protagonistas na campanha das legislativas do próximo domingo, apesar de não serem candidatos nas eleições, como é o caso de Arnaldo Otegi, líder do partido independentista basco de esquerda Bildu ou da recém-empossada presidente do governo regional da Extremadura, María Guardiola, do Partido Popular (PP, direita).
Zapatero e Otegi são figuras desta campanha intencionalmente, com intervenções públicas com as quais querem influenciar e mobilizar eleitores.
Já Guardiola, é uma progonista da campanha não por sua iniciativa, mas por o seu nome ser invocado de forma recorrente em debates, comícios, entrevistas, colunas de opinião e tertúlias nas televisões.
María Guardiola, que tomou posse esta semana como presidente do governo regional da Extremadura, aliou-se à extrema-direita para chegar ao cargo, apesar de o Partido Socialista (PSOE) ter sido o mais votado nas eleições autonómicas de maio e de ela própria ter afirmado inicialmente que nunca se coligaria com o VOX, por ser uma formação "que nega a violência machista", que "desumaniza os imigrantes" e que "deita para o lixo a bandeira LGBTI (pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais)".
O caso de María Guardiola e da Extremadura é em permanência referido por o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, à frente nas sondagens, insistir em defender que é o partido mais votado que deve governar, para evitar a entrada "dos extremos" no executivo espanhol, tendo proposto um acordo nesse sentido aos socialistas.
O papel nesta campanha de José Luis Zapatero, antigo líder do PSOE e primeiro-ministro espanhol entre 2004 e 2011, foi justificado pelo próprio na terça-feira num comício na Corunha (Galiza, norte de Espanha), quando disse que perante o "ataque insidioso, impiedoso e injusto" da direita a Sánchez decidiu "pegar na mochila" e ir "às televisões, às rádios, às praças e aos auditórios e defender a verdade".
Sánchez passou vários dias desta campanha fora de Espanha, numa cimeira da NATO e noutra em Bruxelas, e preferiu, desde a pré-campanha, focar-se mais em entrevistas em televisões, rádios e 'podcasts' do que em comícios.
Zapatero acabou por ter uma agenda de campanha e de entrevistas mais preenchida do que a do próprio Sánchez, com as suas respostas à direita espanhola e outros comentários a terem espaço frequente em noticiários e jornais.
Nas análises da campanha ou em programas de humor ouve-se que Zapatero "está a fazer campanha como nunca fez por ele próprio" ou que está a trabalhar para ser "o presidente da terceira República espanhola".
Os adversários do PSOE à direita (PP e VOX) passaram a usar a dupla "Sánchez e Zapatero" como alvo nas suas declarações, e já não só o atual primeiro-ministro.
Também Arnaldo Otegi, que não é candidato nas eleições, e o partido que lidera, o Bildu, uma coligação de formações de esquerda que defendem a independência do País Basco, são presença regular nos debates e notícias da campanha.
O Bildu, que integra entre os dirigentes e militantes antigos membros do grupo terrorista ETA, foi determinante na última legislatura espanhola, por ter viabilizado, com a abstenção dos seus deputados, a tomada de posse do Governo de Sánchez e a aprovação de leis como os orçamentos do Estado.
A aliança de Sánchez com os separatistas bascos e catalães, a quem fez várias concessões, como mudanças no Código Penal, valem-lhe das maiores críticas que ouve nesta campanha, com a direita a dizer que são acordos com "os inimigos de Espanha", que nem sequer querem fazer parte do país ou que querem mesmo acabar com ele.
"Apesar de não nos convidarem, estamos sempre presentes", disse Otegi a seguir ao único frente-a-frente na televisão espanhola entre Sánchez e Feijó nesta campanha, referindo-se ao Bildu e à Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que considerou "os vencedores" do debate pelas várias referências aos dois partidos.
O Bildu e a ERC querem manter a influência no Governo de Madrid e têm-se empenhado na campanha, com as declarações de Otegi, em especial, a ecoarem em permanência na capital espanhola.
Se das eleições de domingo sair um governo PP/VOX, "vão produzir-se independentistas bascos e catalães à escala industrial", afirmou no domingo o líder do Bildu.
"Há no Estado espanhol uma crise de regime" que PP e VOX querem solucionar com "políticas autoritárias", afirmou Otegi na segunda-feira, em Barcelona, numa iniciativa de campanha da ERC, partido liderado pelo mais discreto Oriol Junqueras, um dos protagonistas da tentativa de independência da Catalunha de 2017, que esteve preso por causa disso e foi indultado por Sánchez.