Madeirenses poderão falhar no crédito à habitação no último trimestre do ano
Ricardo Miranda avança, no entanto, que as instituições bancárias estão a fazer de tudo para que os madeirenses não entreguem as casas ou entrem em incumprimento.
Conhecido 'super' agente do imobiliário mostra-se confiante que os madeirenses farão de tudo para não perder a sua habitação, até porque o mercado de arrendamento "está pior" do que o mercado de aquisição.
Ainda não existem muitos madeirenses que estejam, actualmente, a entregar as suas casas ao banco à conta da subida das taxas de juro no crédito à habitação, mas o problema de incumprimento poderá colocar-se a partir do último trimestre deste ano.
A perspectiva é de Ricardo Miranda. Em declarações ao DIÁRIO e TSF-Madeira, o premiado agente imobiliário acredita que os madeirenses farão de tudo para não perder a sua habitação, até porque o mercado de arrendamento "está pior" do que o mercado de aquisição.
Taxas de juro já são mais de metade da prestação da casa
Pela primeira vez desde Maio de 2009 as taxas de juro implícitas a crédito à habitação custa, em média, mais do que o valor da amortização do empréstimo na prestação da casa. Se no país tal ocorre pelo segundo mês consecutivo, na Madeira é uma novidade para este indicador e que não ocorria há tempo demasiado para muitos quiçá terem memória desse facto.
"Neste momento se me perguntar se eu tenho conhecimento de alguma situação de alguém que entregou a casa não tenho conhecimento, mas acredito que é uma situação que pode piorar agora no final do ano. Temos muitos contratos que foram realizados com a banca, com a Euribor a 12 meses, contratos esses que foram revistos em Setembro, Outubro do ano passado e que as pessoas sentiram uma pequena subida no final do ano passado, mas não voltaram a subir a prestação e vão sentir isso agora no final do ano", começa por justificar Ricardo Miranda.
Acredito que isso seja depois um problema, mas também para outro lado acredito que as pessoas farão tudo e mais alguma coisa para não perderem a habitação, porque se na primeira crise, há 12 anos, você se entregava a casa ao banco muitas vezes até ficava com o carro pago, ficava com a mobília paga, porque as pessoas tinham se alavancado em 120% ou 130% do financiamento, neste momento, pelo contrário, já tiveram que entrar com o capital próprio para a aquisição e, sobretudo, na altura também tinham várias arrendamentos disponíveis e facilmente conseguiam resolver a vida. Ricardo Miranda
Neste momento “isso não acontece”, ou seja, “o mercado de arrendamento está pior que o mercado de aquisição” e “as pessoas neste momento que entregarem a casa ficam com um problema gravíssimo“. “Acredito que as pessoas vão deixar de ir de férias, vão deixar de jantar fora, vão deixar de trocar de carro e a casa será a última coisa que vão hipotecar, porque realmente não há grande volta a dar“, sublinhou.
Ricardo Miranda admite que as instituições bancárias estão já a encetar esforços para que não volte a acontecer o mesmo que se verificou durante a crise financeira de 2010. E analisou igualmente o mercado imobiliária na Região. Diz que sente um ligeiro abrandamento, mas que a procura continua superior à oferta.
"Neste momento, o que nós sentimos no mercado é que sentimos um ligeiro abrandamento, coisa que era perfeitamente expectável para tudo o que tenha acontecido, da subida de taxa de juro. No entanto, o mercado mesmo, com uma diminuição da procura, continua a ter uma procura superior à oferta. E enquanto isso acontecer, vai ser, para mim, a principal premissa para manter os preços nos valores que estão. Temos em outra situação, que é o preço da matéria-prima. Teve uma escalada brutal, mesmo para os próprios promotores, é difícil de baixar valor por causa da subida da matéria-prima", reconheceu o agente imobiliário, para depois abordar a postura actual das instituições bancárias.
Acredito que irá haver algumas situações de incumprimento, mas também acredito que a própria banca, e nós temos visto isto, a própria banca está com uma preocupação muito grande sobre essa situação. A própria banca muitas vezes tem tido a iniciativa de entrar em contacto com os clientes - que eles já estão a prever que possa haver incumprimento - a tentar colocar ali algumas hipóteses, seja de alargamento de prazo, seja de um período de carência para o final, ou seja, a própria banca tem preocupação com esta situação, porque não quer que aconteça o que aconteceu há uns anos. E eu julgo que tudo isto somado, julgo que não haverá um problema de incumprimento, tão grave como se previu há alguns meses. Ricardo Miranda
Vistos Gold ferem o sector
A Assembleia da República deverá promulgar, esta quarta-feira, o fim dos Vistos Gold. Mesmo sem esse atractivo, que fere o sector imobiliário da Região, Ricardo Miranda assume que a Madeira vai continuar a atrair residentes estrangeiros.
"Agora, também não deixo de dizer que, logo após a restrição dos Vistos Gold em Lisboa e no Porto, nós começamos a sentir uma procura muito maior desse tipo de investimento. Temos inclusive clientes que vieram a Portugal para investir em Lisboa, e depois aperceberam-se do problema que estava em Lisboa, e vieram para a Madeira, aconteceu-nos isso, ou seja, estávamos a começar a sentir realmente que esse nicho poderia ser um nicho bastante interessante para a Madeira, e depois aconteceu o que aconteceu aqui com a República, e que achou que, se calhar, já não fazia sentido esse tipo de ferramenta de investimento", reconheceu.
Vamos ter sempre o nicho de mercado para o mercado exterior, pelo que a Madeira é, ou seja, a Madeira vende-se pelo clima, pela segurança, pelas vistas, pelas próprias pessoas da Madeira, toda a simpatia, toda a envolvência que os madeirenses dão a nível de acolhimento ao estrangeiro. E isso, para mim, vai continuar sempre a acontecer, exista Vistos Gold ou não exista Vistos Gold, a Madeira vai sempre ter uma componente do mercado exterior muito grande. Ricardo Miranda