Tempo a mais para tão pouco debate
Momentos inacreditáveis no 'Estado da Região' merecem reflexão urgente
Boa noite!
O debate sobre o Estado da Região foi longo, mas soube a pouco. Gastaram-se quase seis horas em discursos propagandísticos e em intervenções excessivamente focadas nas teimosias de uns e nos caprichos de outros. Logo, o que sobra para o futuro é angustiante.
A utilização abusiva de recortes de jornais. A táctica é cada vez mais comum, o que agradecemos na parte que nos toca, mas espelha a falta de rasgo propositivo. Houve excesso de passado numa Região que se quer de futuro, ou seja, houve mais balanços do que revelações, daquelas que podiam dar notícia para mais tarde exibir.
A incapacidade de emenda. Para quê tantos pedidos de esclarecimento ao Governo se, depois de dadas as respostas, alguns parlamentares mantêm a tese inicial na última ronda de intervenções como se entretanto nada tivesse sido dito?
As bandeiras do costume. As listas de espera na saúde, a comparação doentia com os Açores, os bufetes estatísticos, os preços das garrafas de gás, o ferry entre o continente e a Madeira e o tamanho dos impostos ou da banana são temas recorrentes nos debates parlamentares. Mais do mesmo, sem surpresa, nem mestria, quando há tanta matéria para resolver de forma criativa.
A fuga à resposta frontal. Muitas perguntas não foram feitas. Talvez porque algumas das que se fizeram não foram respondidas frontalmente por quem tem responsabilidades acrescidas nas promessas ainda por cumprir.
A publicidade do governo nos jornais. O líder do PS tocou no assunto, insinuando favorecimento a quem está no poder em ano eleitoral. Como Sérgio Gonçalves bem sabe os anúncios que, por sinal, não têm sido repartidos de forma equitativa, não compram notícias, nem a informação cobra aos protagonistas políticos pelos conteúdos publicados. Se assim não fosse, os socialistas deviam-nos uma pipa de massa.
A roçar o inacreditável. Foram precisas 4 horas para alguém fazer uma pergunta o secretário da Economia. Mas o mais hilariante foi não ter havido uma única pergunta sobre o Turismo recordista. É sintomático que o motor na economia tenha sido o grande ausente do debate.
A estratégia de Ricardo Lume. O único deputado que soube gerir o tempo, não se perdendo em enquadramentos desnecessários, fez perguntas a todos os governantes. Não admira que tenha obtido a gratidão dos secretários regionais centristas. Se não fosse Lume, nem Rui Barreto, nem Teófilo Cunha tinham ido a jogo, o que também indicia os propósitos da maioria no último confronto parlamentar.
Os desrespeitos institucionalizados. O fim da legislatura merecia outra elevação. O nervosismo na sala foi evidente em vários momentos, por via da arrogância sem nexo, das conversas paralelas, dos apartes jocosos e dos ensaios humorísticos sem piada nenhuma. Não havia necessidade de empobrecer uma sessão que mais parecia uma comissão de inquérito à “missão cumprida”, já que de debate teve muito pouco.
O ataque aos bem-sucedidos. Não se percebe como é que alguns partidos querem ganhar votos a 24 de Setembro se passam o tempo entretidos a gozar com quem trabalha e em cruzadas gratuitas contra quem gera emprego e riqueza, contra quem se esforça pela garantia de coesão económica e social e contra a diversidade democrática.
O elogio na hora despedida? Esta quarta-feira ainda há sessão solene do dia da Assembleia, mas Miguel Albuquerque já fez questão de agradecer o trabalho de José Manuel Rodrigues. Mais, pediu palmas para o presidente da ALM, sobretudo depois de ter visto o líder parlamentar do PSD desconsiderar quem o mandou o prosseguir no discurso final e de ter sabido que o líder centrista e secretário da Economia ignorou, por seis vezes, a indicação dada pelo seu presidente que havia terminado o tempo de intervenção. Há mínimos a observar, mesmo quando todos parecem ser doutorados em tolerância zero.