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Queixa-crime à RTP por 'cartoon' foi "decisão difícil"

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O diretor-nacional da PSP, Manuel Magina da Silva, admitiu hoje ter sido "uma decisão difícil" apresentar queixa-crime contra a RTP por causa de um 'cartoon' sobre racismo nas forças de segurança.

"Não é isso que gostaríamos de fazer, como é lógico, com qualquer órgão de comunicação social", disse Magina da Silva aos jornalistas à margem da inauguração do Museu da Polícia de Segurança Pública em Lisboa.

Cartoon da RTP sobre racismo nas forças de segurança enfurece polícias

Sindicatos aguardam por uma posição oficial da tutela e admitem agir judicialmente

Questionado sobre se a decisão foi motivada por um mal-estar entre os elementos da polícia, o responsável rejeitou que fosse esse o motivo.

"O diretor-nacional toma muitas vezes decisões muito difíceis, mas tem de as tomar. Se eu estivesse cá para tentar agradar a todos ia vender gelados em vez de ser diretor da PSP", observou.

Escusando-se a comentar a decisão, Magina da Silva remeteu explicações para o comunicado divulgado esta semana pela PSP e disse aguardar o resultado do inquérito.

A PSP avançou na segunda-feira com uma queixa-crime ao Ministério Público (MP) por causa do 'cartoon' emitido pela RTP, lamentando "juízos ofensivos" e sublinhando que a liberdade de expressão "não é um direito absoluto".

Em comunicado, a força de segurança revelou então que se queixou também à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista (CCPJ), embora a cartoonista Cristina Sampaio não tenha carteira de jornalista (Cristina Sampaio é licenciada em Pintura, ilustradora e artista gráfica), ao considerar que o 'cartoon' "propala factos inverídicos, capazes de ofender a credibilidade, o prestígio e a confiança devida à PSP".

Exibido na passada sexta-feira, na rubrica semanal do coletivo Spam Cartoon na RTP, o 'cartoon' animado, intitulado "Carreira de tiro", mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, mostra os alvos, que foram escurecendo à medida da agressividade do polícia.

Uma versão 'estática' do mesmo 'cartoon' foi publicada no domingo no jornal Público.

ASPP responde com vídeo ao cartoon emitido na RTP

A Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP-PSP) respondeu com um vídeo ao cartoon transmitido pela RTP, na quinta-feira e que tem provocado acesa polémica.

No sábado, o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes (SNCC) da Polícia de Segurança Pública (PSP) apresentou uma queixa-crime contra os autores do 'cartoon', e também contra a RTP, por entender que "há, inequivocamente, uma intenção de vilipendiar todos os polícias, retratando-os como xenófobos e racistas".

Contactado pela Lusa, o ilustrador André Carrilho, cofundador, juntamente com João Paulo Cotrim, do Spam Cartoon - um microprograma de 30 segundos, com o mesmo nome, no qual a atualidade é vista por 'cartoons' -, considerou que a queixa "não faz sentido", uma vez que o 'cartoon' "não tem nada a ver com a PSP nem com a realidade portuguesa".

"Nós trabalhamos para a RTP desde 2017 e o 'cartoon' é sempre feito num contexto de atualidade nacional e internacional, neste caso é internacional. Tem a ver com a ocorrência em França, da morte de um jovem francês às mãos da polícia que depois deu origem a vários tumultos pelo país inteiro", explicou André Carrilho.