Crónicas

Erdogan

Ao protagonismo pessoal, à aparente neutralidade, à vontade de ser o facilitador entre as partes desavindas e o diplomata que negociaria a paz, acrescentou, desde o início da invasão russa, uma incoerente proximidade a Putin, apesar da Turquia ser membro da NATO.

Foi o mesmo Erdogan que, inesperadamente, se transfigura e vai à Ucrânia apoiar a adesão do país àquele bloco militar, surpreendendo a ocidente e a leste. Sabendo que da parte ocidental, apesar da simpatia pela ideia, não a vão incentivar até ao fim da guerra. Foi mais papista do que o Papa.

Mais inesperado foi prometer o impensável até há pouco, escoltar os barcos comerciais ucranianos com cereais que precisem de atravessar o Mar Negro, depois do acordo, patrocinado pela ONU, não ter sido renovado. Indiscutível o corajoso atrevimento fazendo frente à armada de Putin.

Não bastando assumiu, antes da cimeira de Vilnius, a aprovação à entrada da Suécia na Aliança Atlântica, depois de semanas a fazer exigências ao país nórdico, o que vinha criando, entre os países membros, fundada descrença na realização da pretensão sueca.

Por fim, libertou os presos de Azovstal, detidos pelos russos e sediados na Turquia, que só com a permissão de Putin poderiam ser soltos e, no entanto, seguiram livres para a Ucrânia.

Este é outro Erdogan. Não o faz a troco de convicções, mas de questões práticas. A adesão do seu país à UE pode voltar a ser falada, não para o imediato, mas a prazo, os negócios militares com os EUA, interrompidos, retomarão e mais que não sabemos. A diplomacia funcionou. Jogou a favor da Ucrânia, da Suécia, da NATO e, com certeza, da Turquia. O homem não dá ponto sem nó. Indubitavelmente o protagonista do momento.