Rui Rio considera que objectivo das buscas é afectar a sua imagem e diz-se tranquilo
O ex-presidente do PSD Rui Rio considerou hoje que o objetivo das buscas domiciliárias de que foi alvo é afetar a sua imagem, afirmando que os pagamentos em causa "não são ilícitos" e acontecem em todos os partidos.
"Comigo estou tranquilo, não estou tranquilo é com o pais. Já não tenho uma esperança muito grande no país, mas quando vejo estas coisas fico com menos esperança", afirmou Rui Rio, em declarações aos jornalistas, dentro do carro, ao chegar à sua residência no Porto.
A Polícia Judiciária (PJ) mobilizou hoje cerca de 100 inspetores e peritos para buscas na casa do ex-presidente do PSD Rui Rio e na sede nacional do partido, por suspeitas dos crimes de peculato e abuso de poderes.
Em causa, segundo a CNN, que esteve em direto desde o início das buscas, estão suspeitas de um alegado uso indevido de dinheiros públicos, através de verbas da Assembleia da República definidas para a assessoria dos grupos parlamentares e que seriam utilizadas para pagar funcionários do partido que não trabalhariam no parlamento.
Rui Rio desvalorizou estas suspeitas, considerando que são apenas para "produzir uma notícia" e disse nem perceber do que a PJ andou à procura, confirmando que não foi constituído arguido.
"Os pagamentos não são ilícitos, isto são os partidos todos, porque é que [foi] o PSD? Se alguma coisa aconteceu no meu tempo foi uma reforma no sentido de moralizar ao máximo tudo isto, que não é que estivesse mal, mas moralizar, pôr direito", afirmou.
Questionado se estas notícias afetarão a sua imagem, Rio respondeu: "Isso é o que querem, tudo isto é para afetar a minha a imagem, se afeta ou não, não sei, tenho 30 anos de vida pública, as pessoas já me conhecem".
"Eu estou fora da política, não conto voltar à política, estou farto da política, mas às vezes... Eu tinha um amigo que era o dr. Miguel Veiga que dizia: 'Piquem-no, piquem-no, que ele funciona bem é picado'. Eu estou tão sossegado, para que é que me vêm picar?", disse.
Rui Rio disse não ter falado com a direção atual do PSD, até porque nem tem telemóvel, que foi apreendido durante as buscas.
O ex-líder do PSD disse já ter sido constituído arguido "quatro ou cinco vezes na vida" e uma delas por ter feito à Ordem dos Médicos e à Procuradoria-Geral da República uma queixa contra baixas fraudulentas na Câmara Municipal do Porto, quando presidia a esta autarquia.
O ex-presidente do PSD insistiu que esta forma de pagamento a funcionários do partido via parlamento "é uma prática na Assembleia e nos partidos todos".
"As pessoas podem considerar bem, podem considerar mal. Isto vem a público porque estávamos a trabalhar no sentido da reestruturação dos recursos humanos".
Rui Rio estaria a referir-se a um estudo que encomendou, em 2020, à consultora Deloitte e com base na qual mexeu na grelha salarial dos funcionários do partido e do grupo parlamentar, na altura com o argumento de acabar com "injustiças salariais", mas que gerou descontentamento em parte dos trabalhadores.
Em julho de 2020, a revista Sábado noticiou um processo constituído no Ministério Público sobre esta prática a partir de denúncias internas no PSD.
Hoje, em comunicado, o PSD assegurou hoje que "prestará toda a colaboração" à justiça, informando que, segundo as autoridades, a investigação abrange o período de 2018 a 2021, anos em que Rui Rio era presidente do partido.
Rui Rio foi presidente do PSD entre fevereiro de 2018 e julho de 2022, tendo acumulado com a presidência do grupo parlamentar entre novembro de 2019 e setembro de 2020.