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Compromissos que importam

Os meses que nos separam das próximas eleições legislativas constituem uma ocasião especialmente adequada para os cidadãos reflectirem sobre a governação que tem sido levada a cabo nos últimos anos, avaliando os méritos e deméritos que poderão ajudar a definir o seu sentido de voto. Porém, este tempo também constitui um período privilegiado, para os políticos apresentarem, em tons de genuinidade e autenticidade, as suas ideias para o nosso futuro colectivo e o contributo que almejam fazer à Causa Pública. Por outras palavras, explicar como tencionam usar o poder e os recursos que lhes forem conferidos pelos resultados eleitorais para garantir a defesa do Bem Comum, em sintonia com a realização plena da Pessoa, a qual pode e deve ser entendida como início, fim e propósito central de toda a acção governativa.

Nesse sentido, deixo três apelos diferentes, que poderão, ou não, ser úteis à medida que a população enfrenta o horizonte de uma escolha eleitoral e os partidos acertam as suas estruturas para mais um embate.

Primeiro, que os candidatos não se percam em generalidades, apregoadas sem interesse, nem dedicação, com recurso frequente à acusação fácil, à desculpa débil e à fachada que não passa o teste da competência. Ao contrário do que julgam certos observadores, comentadores e estrategas partidários, as pessoas não são ignorantes. Pelo contrário, fazem escolhas de acordo com as propostas que se apresentam, com a eficácia das lideranças e com as suas próprias convicções. Por isso, fica o desejo de que os políticos percebam que, para conquistar o poder, têm, antes, de assumir, perante os cidadãos, o compromisso de o usar, não como um fim em sim mesmo, mas como um meio para realizar um projecto proposto e aceite.

Segundo, que os candidatos sejam homens e mulheres sem medo dos becos, das ruas, das vilas, das cidades e do Povo, mas com a determinação de neles encontrar e perceber o bom senso e a percepção da realidade em que a grande maioria das pessoas vive cada dia e cada instante. Por isso, que os candidatos tenham a coragem para rejeitar as meras declarações de apoio de circunstancial e se comprometam com a reforma séria e profunda do actual sistema político, à sombra da qual tem crescido e proliferado uma rede perniciosa de interesses e amiguismos, que corrompe e viola e gestão rigorosa da Causa Pública e dos nossos recursos comuns.

Terceiro, independentemente de ideologias ou orientações políticas, que os candidatos assumam empenhadamente a urgência de redistribuir com consciência, critério e justiça a muita riqueza que a nossa Região gera pelos cidadãos, pelos empreendedores, pelas empresas que criam e mantêm postos de trabalho e pelos projectos meritórios – e não pelos velhos amigos, com quem partilham as festas da ‘nata social’ e os corredores do poder. Como deveria ser óbvio para todos, não é certo, nem aceitável, que, numa terra onde há empresas a registar lucros de centenas de milhões, mais de oitenta mil vivam na pobreza. Não é tolerável que, numa terra onde o preço por metro quadrado bate recordes, aqueles que trabalham sejam empurrados para as periferias ou para a casa dos pais. Não é admissível que, numa terra onde a banca tem lucros de 10,7 milhões por dia, haja idosos a viver com menos de trezentos euros por mês.

Temos de ser muito melhores. Mais humanos. Mais capazes. Mais sensíveis. Mais sensatos. Temos de fazer melhor. Por nós e para os outros. É bom que nos lembremos disso – e que exijamos isso a quem tanto quer o nosso voto.