De coração cheio
Do arraial madeirense em Londres sobram três reflexões
Boa noite!
Fomos a Londres levar esperança e alegria e regressamos de coração cheio. Pela festa fraterna que juntou milhares de madeirenses num dos parques emblemáticos da cidade, mas sobretudo pelos testemunhos genuínos de gente que não esquece as origens, que deu a volta ao destino traçado e que tem uma capacidade de trabalho contagiante.
. Não é fácil organizar uma festa ao ar livre em Londres. Tem que acabar cedo, ainda de dia!, e respeitar escrupulosamente o minucioso caderno de encargos. As entidades municipais não permitem baldas, as licenças não têm descontos e são pagas antecipadamente e a eventual culpa não morre solteira. Tudo é medido e contado no âmbito do plano de segurança exigente, mesmo que necessário. Apesar de cultural e estrategicamente distintas das britânicas, as Câmaras da Região poderiam adoptar algumas regras que não fossem só aquelas para inglês ver. Se na capital inglesa é possível divertir-se intensamente das 11h às 20h porque é que aqui se faz tanto barulho com a hipótese da diversão nocturna fechar mais cedo?
. O arraial fez-se graças à capacidade de organização dos madeirenses. E registou casa cheia durante dois dias, o primeiro dos quais em condições climatéricas adversas. Uma obra notável de dezenas de conterrâneos, superiormente liderados pelos conselheiros da comunidade Paulo Gouveia e José Silva, que trabalharam em equipa, que revelaram atenção a todos os pormenores e se comprometeram a voltar a dedicar parte do seu tempo a erguer uma manifestação colectiva de tamanha envergadura já no próximo ano. Estarão todos decisores deste País atentos a esta capacidade de mobilização dos madeirenses para assim poderem contagiar as comunidades mais acomodadas na diáspora ou vão transformar o evento em arma de arremesso político?
. O DIÁRIO tudo faz para estar próximo das comunidades madeirenses espalhadas pelo mundo. Não para delas extrair dividendos que não sejam os que decorrem do processo informativo. Mas para cumprir com o seu estatuto editorial e missão. Uma opção que representa investimento, mas acima de tudo disponibilidade para ouvir. Sempre que contactamos com os que a vida levou para longe da terra onde nasceram sentimos orgulho, respeito e admiração. Há uma autenticidade nas histórias de vida que não nos sai da memória. E há gente que manifesta intenção de voltar, mau grado o receio de encontrar portas fechadas, o desvio do olhar e as forças de bloqueio. Teremos nós capacidade de retribuir os gestos de amizade dos que em cada canto mundo nos acolhem de braços abertos, quando, regressados à terra, perdem horas para serem atendidos quando vão tratar de documentos, quando lhes é negada oportunidade apesar de falta de mão de obra e até quando são barrados à porta da discoteca?