Bispo fala em recomeço e vida nova no Dia da Região
"O testemunho da fé oferecido pelos madeirenses é reconhecido e admirado no mundo inteiro".
As comemorações do Dia da Região e das Comunidades Madeirenses encerraram com a Missa Solene e Te Deum, na Sé do Funchal, presidida pelo Bispo do Funchal, D. Nuno Brás.
Na sua homilia, o prelado focou em recomeços e vida nova, mas com Deus.
Recordando os contos que dizem que os primeiros seres humanos a nascer na Madeira receberam o nome de Adão Gonçalves Ferreira e Eva Gomes Ferreira, D. Nuno Brás afirmou que os povoadores tinham a percepção de que a "ilha tinha-lhes sido confiada pelo Criador como outrora o Paraíso fora confiado a Adão e a Eva", dando-lhes a possibilidade de recomeçar.
Certamente o Adão e a Eva madeirenses não tinham a consciência alargada das consequências do que estavam a viver: essas, apenas a distância da história permite. Mas tinham, de certeza, a percepção de o fazer em nome de Deus: a Ilha tinha-lhes sido confiada pelo Criador como outrora o Paraíso fora confiado a Adão e a Eva. Vinham de um mundo velho, mas era-lhes oferecida a possibilidade de um recomeço radicalmente novo. Algo de novo estava a surgir, não apenas diante dos seus olhos mas com eles, por meio deles. E quando a labuta do quotidiano e os desastres naturais pareciam contradizer essa inicial noção paradisíaca, nunca desistiram os nossos antepassados de recomeçar, uma e outra vez: o Deus que lhes tinha entregue esta Ilha é o mesmo que permite o recomeço, uma e outra vez — sempre que necessário! — e, sobretudo, o Deus que sempre aponta novos horizontes de existência. O quotidiano madeirense teria sido impossível sem esse outro horizonte que apenas a fé, verdadeira fonte de vida nova, pode oferecer". Homilia
"A vida nova: eis o que cada ser humano sempre procura", observou, descrevendo que "somos eternos insatisfeitos". D. Nuno Brás considera que esse recomeço buscado apenas chega quando as pessoas encontram Deus: "Quando percebemos a Sua presença ao nosso lado, quando somos confrontados com qualquer realidade onde a marca divina se nos manifesta e nos interroga — ou até nos envolve", mas tal não significa uma mudança de vida, apenas uma mudança de paradigma, referiu: "Mas essa vida nova, verdadeira e radical, não consiste numa vida simplesmente diferente, ainda que o “diferente” signifique uma mudança de cultura, uma nova época na história da humanidade. Disso, se deram conta bem depressa os que a esta Ilha vinham com o entusiasmo da novidade: encontravam apenas o diferente, não fosse a fé cristã, vivida em cada momento, oferecer-lhes a possibilidade de ir mais longe".
Esta vida nova não consiste tanto em projectos e ideias diferentes (pessoais ou colectivos), mas na nossa relação com Jesus de Nazaré, no “encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” — dizia o Papa Bento XVI, citado com frequência pelo Papa Francisco (DCE 1). É o encontro com Jesus Cristo que conduz a uma identificação cada vez maior com Ele, até à cruz — até ao desapossamento de nós mesmos para que Cristo possa ser tudo em nós: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim”, escutávamos no evangelho. A vida nova é uma Pessoa, um homem que venceu a morte, que dá a todos a possibilidade de partilhar da sua vida divina. Não tenhamos medo de, por meio dela, passarmos a olhar e a viver dum modo novo, ainda que mais exigente: o modo daquele que segue radicalmente a Jesus". Homilia
D. Nuno Brás usou da palavra para destacar que os madeirenses "têm feito tesouro da herança recebida dos seus antepassados", tendo "igualmente vivido a fé, essa vida nova — vivida com fervor, a animar e transformar o quotidiano, oferecendo-lhe o horizonte e o sentido definitivo. O testemunho da fé oferecido pelos madeirenses é reconhecido e admirado no mundo inteiro".