Há 17.000 pessoas em risco devido a minas flutuantes em Kakhovka
A organização não-governamental (ONG) Save the Children alertou hoje para o risco que representam para cerca de 17.000 ucranianos as minas terrestres flutuantes devido às inundações causadas pela destruição da barragem de Kakhovka, no sul da Ucrânia.
A Save the Children adverte de que os engenhos constituem um perigo especialmente para as crianças da região afetada e lançou uma campanha para mostrar como agir perante um objeto flutuante letal.
Após mais de 15 meses de guerra russa na Ucrânia, as inundações provocadas pela explosão da barragem da Central Hidroelétrica de Kakhovka, na região de Kherson, desencadearam mais uma crise humanitária no país.
No total, são cerca de 17.000 as pessoas que residem na zona afetada pelas inundações e que têm de enfrentar o desafio de obter água potável e limpa, reparar os danos que as suas habitações sofreram e manter-se a salvo das minas terrestres flutuantes.
"As famílias não só terão dificuldades para ter acesso a água potável, segura e limpa, como o risco adicional de minas flutuantes constitui um grave perigo para as crianças", alertou o diretor de comunicação da Save the Children Ucrania, Amjad Yamin.
Por essa razão, a ONG e a Associação Ucraniana de Desminagem lançaram na região de Kherson uma campanha conjunta 'online' que inclui conselhos sobre os perigos das minas e o que fazer se se encontrar um desses objetos mortais a flutuar na água.
A maioria das minas é invisível na água e algumas não afundam, permanecem à superfície, gerando um risco de morte para as crianças da zona.
"Prever como um especialista em minas instalaria uma delas é uma coisa; prever como a natureza moverá este ou aquele objeto explosivo é outra muito diferente", observou o dirigente da Associação Ucraniana de Desminagem, Timur Pistryuga.
O responsável sublinhou também que "ainda há muitas munições por explodir, todas [foram] arrastadas pela água" e que as inundações dificultarão muito a entrega de ajuda humanitária e a logística no terreno.
Atualmente, a Ucrânia tem cerca de 180 quilómetros quadrados de terra contaminada - dez vezes mais que em fevereiro de 2022, quando a guerra começou --, e as inundações causadas pela rutura da barragem de Kakhovka não só ameaçam ampliar esta extensão mortal, como poderão deslocar ao longo de quilómetros algumas minas terrestres nos próximos dias e semanas.
A Save the Children prevê distribuir nos próximos dias cerca de 60.000 litros de água potável, 5.000 cabazes de alimentos e 3.000 estojos de higiene nas regiões afetadas pelas inundações na Ucrânia -- entre as quais se encontram Mikholaiv e Kherson.
Desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 471.º dia, a ONU apresentou como confirmados 8.983 civis mortos, dos quais 879 vítimas de minas terrestres e outros engenhos por explodir, incluindo 94 crianças, e 15.442 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou também, até agora, a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.