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VAR: Vulnerabilidade Até Reorganizar

Antes de mais, não é minha intenção com este texto criar juízos de valor sobre os padrões de arbitragem, quer nacional ou internacional, por uma questão de respeito pelos profissionais que exercem as funções. Aqui, defendo mudanças regulamentares e consequente aplicação do VAR (vídeo árbitro assistente).

Como é sabido, este foi introduzido no desporto, particularmente no futebol, para minimizar os erros e apoiar as decisões do árbitro principal, nomeadamente ajudar a corrigir as decisões incorretas em momentos chaves do jogo, bem como em situações que tenham passado despercebidas à equipa de arbitragem. Não obstante, ao longo desta época, nos principais campeonatos europeus, na primeira liga portuguesa e nas competições europeias assistiu-se a inúmeros pareceres defeituosos que não foram revertidos pela ferramenta.

Em relação ao protocolo, apenas intervém em quatro situações: (1) golo/não golo; (2) penálti/não penálti; (3) cartão vermelho direto; (4) eventual má identificação por parte do árbitro, aquando de uma advertência ou expulsão de um jogador da equipa que cometeu a infração.

Quando um acontecimento se enquadra nos incidentes passíveis de revisão, o VAR indica que há um incidente que deve ser revisto ou o árbitro pede a sua colaboração. O árbitro principal é aconselhado a consultar as imagens. É importante referir que a apreciação é dada sobre a alteração da decisão inicial do árbitro, caso a mesma seja “erro claro e óbvio” ou “incidente grave perdido”.

Um dos poderes e deveres do árbitro é “controlar o jogo em colaboração com os outros elementos da equipa de arbitragem” e, além do mais, “o árbitro terá sempre a decisão final, que poderá ser baseada apenas na opinião do VAR e/ou na revisão feita pelo árbitro diretamente num monitor”.

Relativamente a outros parâmetros, de forma a aumentar as valências do utensílio, inclusive as situações não vistas a olho nu pelo árbitro ou incorreção, considero que a tecnologia terá um papel decisivo no tempo útil de jogo, passando a recomendar o tempo adicional das duas partes, incluindo um cálculo mais preciso e rigoroso dos tempos de compensação. Esta medida não invalida a cronometragem pelos restantes árbitros. Igualmente, intervir nas seguintes ocorrências, sem a necessidade de o árbitro consultar o monitor, em caso de invisibilidade ou erro na atribuição de: pontapés de canto/pontapé de baliza; lançamentos laterais; simulação e atrasos ao guarda-redes. Referir que estas ações realizar-se-iam em qualquer momento do jogo.

É vital o aprofundamento comunicacional das pessoas envolvidas no processo de decisão, pois é fundamental para os espetadores, presenciais ou virtuais, entenderem a exigência e a dificuldade do processo do vídeo árbitro. Tendo em conta a complexidade do procedimento, a maioria das ocasiões exigem tempo para analisar um determinado lance. Perante isto, devem ser partilhadas as imagens sincronizadas nos recintos desportivos e nas transmissões televisivas, assim como disponibilizar os áudios após os encontros.

Creio que a revisão do protocolo é indispensável, por parte da IFAB, pois o típico adepto necessita de compreender e valorizar esta ferramenta singular, através da alteração e introdução de determinados critérios, de forma a tornar a intervenção dos árbitros mais abrangente, equitativa e acertada. Obviamente, uma aplicação equivocada de uma ferramenta desta natureza origina um constante questionamento da sua credibilidade.

Em suma, a tecnologia bem empregada reduz o erro humano, porém, à medida que o desenvolvimento científico e técnico se transforma e progride, surgem outros tipos de valências e requisitos desafiantes no seio da arbitragem desportiva. Nos moldes atuais, o VAR pode colaborar na redução do erro nos elementos objetivos do jogo, enquanto na subjetividade nem tanto. Contudo é fundamental as entidades competentes conferirem maior contacto dos árbitros com a ferramenta, por exemplo, ser introduzida e abordada nos cursos de formação de árbitros de futebol, nas vertentes teórica e prática, isto é, investir na capacitação das ferramentas tecnológicas e humanas, apesar destes serem regularmente alvo de forte contestação, são elementos preponderantes e diretamente influenciadores da competição desportiva.