O bom, o mau e os desnorteados
A casamentos e batizados só vai quem é convidado. O problema é quando o convidado aceita o convite, mas tem pouca vontade de ir à festa
A notícia da morte política de Pedro Nuno Santos foi manifestamente exagerada. O ministro que já não é mas que, pela exuberância demonstrada, poderia ser, voltou e respondeu à pergunta que ninguém quis responder. Porque pagámos 55 milhões de euros a David Neeleman para sair da TAP? Pedro Nuno não explicou como chegou ao valor, mas não fugiu à razão do pagamento. Pagámos porque tinha de ser. Pagámos porque o PS decidiu que a TAP tinha de continuar. De preferência, com o Estado a ter dedo na gestão. Custe o que custar, prestando um bom serviço ou não. A ideologia e os políticos visionários sempre saíram caros aos contribuintes.
O bom: Celina Faria
46 mil foi o número de proteções temporárias atribuídas, por Portugal, a pessoas que fugiram da guerra na Ucrânia. Quase 13 mil são crianças. Na Madeira, entre os cerca de 400 ucranianos chegados, há 120 crianças. É a sua história - a dos miúdos e graúdos - que nos conta Celina Faria, ao microfone da Antena 1, numa reportagem com o título “A cor do beijo”. Foi esse trabalho que conquistou o Prémio de Jornalismo “Os Direitos das Crianças em Notícia”, na categoria rádio. Ao longo de 30 minutos, a jornalista leva-nos às salas de aula onde a aprendizagem do português permite esquecer, ainda que por breves momentos, a tragédia e a incerteza que aqueles alunos deixaram para trás. Essa libertação temporária faz-se à custa de professores dedicados, de trabalho para lá do horário normal e de toda uma comunidade escolar disponível para ajudar. “A cor do beijo” não é sobre a guerra na Ucrânia, mas permite-nos conhecer um pouco da história de quem a guerra deslocou. Dos mais novos aos mais velhos, todos reconhecem a importância do acolhimento, mas ninguém admite ficar. Não pela ilha, não por nós, mas por eles – os que fugiram e os que ficaram na Ucrânia. Apesar da guerra, da destruição e da incerteza, todos contam os dias para regressar. Porque o desejo de voltar é, na verdade, uma esperança de normalidade e um grito de liberdade. É essa crença crua e inabalável dos ucranianos que talvez não se veja nas caras exaustas, mas que se sente na sua voz e que, por isso, só a rádio pode transmitir.
O mau: Mariana Mortágua
Ainda não refeita do encontro com a multidão de 30 pessoas que a recebeu no Pico dos Barcelos, Mariana Mortágua foi protagonista de uma insólita entrevista a este Diário. Não que a conversa não tenha sido oportuna, mas as respostas da novel líder do Bloco de Esquerda suscitaram estranheza. A começar pelo assunto da nacionalização da TAP. Igual a si própria, disparou algumas generalidades sobre serviço público e sobre como a TAP tem de ser do Estado. Sobre os 3,2 mil milhões de euros que custaram esse devaneio ideológico – “não vale a pena discutir (...) porque já lá estão.”. Assunto resolvido! De seguida, falou de habitação como tema central, mas sobre a passagem de 8 anos do Bloco de Esquerda na governação do Funchal e o desastre que, nesse período, foi a política de habitação social, nem uma palavra. Cumpridas as formalidades ideológicas, Mariana lançou-se ao que realmente vinha. O anúncio de uma geringonça regional. Não se sabe bem como, quando, em que condições, nem sequer com que partidos, mas - descansem as almas socialistas - o Bloco está disponível. A disponibilidade cega tem, pelo menos, dois problemas. Primeiro, significa que o Bloco é um partido negativo, diminuído. Não tem por objetivo conquistar eleições, nem sequer pretende implementar as suas propostas. Para o Bloco, o que conta é impedir que a direita – seja lá o que isso for – governe. E qual a solução para impedir essa desgraça? Uma geringonça. Precisamente o mesmo ajuntamento de partidos que se fez a nível nacional e sobre o qual Mariana, na mesma fatídica entrevista, diz cobras e lagartos. O mesmo saco de gatos partidário que acabou, como todos sabemos, na Câmara do Funchal. Mas esta gente tem a memória assim tão curta?
Os desnorteados: PS Madeira
A casamentos e batizados só vai quem é convidado. O problema é quando o convidado aceita o convite, mas tem pouca vontade de ir à festa. Depois do inusitado lançamento da candidatura à presidência do Governo Regional, Sérgio Gonçalves e o PS anunciaram, com pompa e circunstância, um recrutamento à sociedade civil para a produção do seu programa eleitoral. De acordo com os socialistas, o naipe de nomes apartidários fez questão de colocar-se à disposição de Sérgio Gonçalves para tão importante missão. Na leva de, abnegados e generosos, independentes, constava o nome de Rúben Eiras, anunciado como responsável pelo tema do mar e da economia azul. A disponibilidade durou pouco mais de um dia. Rúben Eiras terá recebido o convite, mas não o terá aceite. Pelo menos na totalidade. Se fosse um casamento, Eiras aceitou lugar ao jantar mas alertou que não ficava para a dança. Politicamente, o convidado não quer chatices com o PS mas dispensa posar para a fotografia de família. Por isso, Eiras não participa no programa eleitoral mas está disponível para dar umas dicas sobre o mar. Só pode haver uma razão para a participação em part-time. Rúben Eiras já percebeu que o casamento anunciado vai terminar em desgosto eleitoral. Basta recordar que, a convite de Cafôfo, Eiras aceitou o que agora negou ao PS. A única diferença é que, então, a vitória era uma possibilidade e agora não passa de uma miragem. Distante e pouco provável.