EUA anunciam suspensão de ajuda alimentar à Etiópia devido aos roubos detetados
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional anunciou hoje a suspensão de ajuda alimentar à Etiópia, após uma investigação interna ter revelado que os fornecimentos destinados a pessoas necessitadas estavam a ser desviados numa escala "generalizada".
"Após uma análise a todo o país, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) determinou, em coordenação com o governo da Etiópia, que uma campanha generalizada e coordenada está a desviar a assistência alimentar destinada ao povo da Etiópia", lê-se num comunicado.
Na nota, a USAID, que não identifica quem desvia a ajuda alimentar e reconhecendo que se trata de uma "decisão difícil", acrescenta que retomará o apoio somente quando forem efetuadas reformas.
Os Estados Unidos são o maior doador individual da Etiópia, tendo fornecido 1,8 mil milhões de dólares (cerca de 1,7 mil milhões de euros) em assistência humanitária, incluindo ajuda alimentar, no ano fiscal de 2022.
No total, 20 milhões de pessoas, entre uma população total de cerca de 120 milhões, dependem de ajuda por causa do conflito e da seca.
Segundo a agência noticiosa AP, um memorando interno preparado por um grupo de doadores humanitários, apontava para o envolvimento do governo federal da Etiópia no desvio da ajuda alimentar.
"O esquema parece estar a ser orquestrado por entidades do governo federal e regional da Etiópia, com unidades militares de todo o país a beneficiarem de assistência humanitária", refere o documento a que a AP teve acesso e elaborado pelo Grupo de Doadores Humanitários e de Resiliência, que inclui parceiros bilaterais e multilaterais.
Os porta-vozes do governo federal da Etiópia não responderam ainda aos pedidos de comentário.
O documento refere que os quadros da USAID visitaram 63 moinhos de farinha em sete das nove regiões da Etiópia desde março e testemunharam um "desvio significativo de produtos alimentares humanitários financiados pela USAID", juntamente com alimentos doados pela França, Japão e Ucrânia.
O anúncio da USAID surge depois de, no mês passado, tanto esta agência norte-americana como o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas terem anunciado a suspensão de ajuda à província de Tigray, no norte da Etiópia, enquanto investigavam as alegações de roubo de ajuda alimentar, que foram relatadas pela primeira vez pela AP em abril.
A província de Tigray foi o centro de um conflito devastador de dois anos, que terminou em novembro passado, e deixou 5,4 milhões de pessoas, de uma população total daquela região de 6 milhões, a depender de ajuda humanitária.