Madeira

“Estamos [mal] habituados a que o mundo gire à volta do dinheiro, do poder ou do prazer”, critica o Bispo do Funchal

Em 2022 a procissão limitou-se à zona junto à Sé do Funchal. 
Em 2022 a procissão limitou-se à zona junto à Sé do Funchal. , Foto: Arquivo/ASPRESS

“Estamos habituados a que o mundo gire à volta do dinheiro, do poder ou do prazer. É assim o modo de viver do nosso tempo, que há muito abandonou a consciência de viver na Presença de Deus. Precisamos de um mundo novo que viva à volta da Presença de Deus”. Palavras do Bispo do Funchal na homilia final do Corpo de Deus.

Foi na terceira e última parte da exortação religiosa fundada no Evangelho que D. Nuno Brás, dirigindo-se à multidão de fiéis presentes na missa campal na Praça do Município/Largo do Colégio, lançou um forte apelo de mudança: “Precisamos hoje daquilo a que poderíamos chamar ‘uma verdadeira revolução eucarística’. Precisamos — cada um de nós e todos como sociedade — de nos deixarmos tocar e transformar por este Jesus que passa pelas ruas da nossa cidade. Precisamos de deixar que Ele nos alimente com a sua Vida, porque estamos demasiado envolvidos por uma cultura da morte. Precisamos de deixar que a Presença do Senhor na Eucaristia nos cure do nosso egoísmo, para sermos capazes de olhar em primeiro lugar para o outro e para as suas necessidades — sabendo que nenhum de nós será feliz, será capaz de chegar à vida verdadeira, sem tornar felizes aqueles que se encontram ao seu lado. Precisamos de deixar que a Presença de Jesus na Eucaristia nos faça olhar mais longe, libertando-nos do ritmo infernal do dia-a-dia, mostrando-nos que a vida humana não se limita a este pedaço de tempo mais ou menos curto em que habitamos este mundo, mas é, antes, uma vida para sempre — e que a Vida Eterna apenas a encontramos com Deus e em Deus. Precisamos que a Presença de Jesus na Eucaristia nos ajude a respeitar melhor o mundo por Ele criado, e colocado à nossa disposição a fim de crescermos interior e exteriormente no Seu louvor, mostrando e proclamando as Suas maravilhas. Precisamos que a Presença de Jesus na Eucaristia nos torne mais unidos uns aos outros, partilhando e vivendo a fé como irmãos. Precisamos que a Presença de Jesus na Eucaristia nos faça mais Seus e nos ajude a rezar, cada vez mais intensa e duradoiramente, e a perdoar a todos quantos nos ofenderam”, declarou.

Quatro anos depois as celebrações associadas à Festa do Corpo de Deus na Madeira voltam a ter o fulgor dos tempos da pré-pandemia, com o retomar da celebração entre a Praça do Município/Largo do Colégio e a Sé do Funchal, incluindo a procissão após a missa campal que irá percorrer algumas das principais ruas do centro da cidade.

Concluiu o sermão pedido a todos os que irão acompanhar o retomar da tradicional procissão até a Catedral a aproveitar o memento para pedir perdão a Jesus “por tantas vezes o ignorarmos e ofendermos. Por vivermos como se Ele não existisse ou não estivesse presente na nossa vida. Mas peçamos-lhe, sobretudo, para as nossas ilhas e para todo o nosso país, a graça de nos deixarmos envolver e transformar segundo a Sua vontade. E peçamos-lhe, também, a força para contribuirmos para o bem daqueles que estão à nossa volta e para o bem de toda a nossa Região”, concretizou.

Antes, o prelado madeirense começara a intervenção baseada no Evangelho, primeiro com referência à “afirmação de Jesus que convidava a ‘comer a Carne do Filho do Homem’ escandalizou os judeus do seu tempo. Escandalizou mesmo os discípulos. E continua a escandalizar muitos, mesmo cristãos”, apontou. Depois falou da “ressurreição e ascensão aos céus do Senhor” para destacar a importância da “Presença eucarística de Jesus”, porque ao contrário, “o esquecimento dessa Presença tem originado perdas incontáveis, retrocessos, não só na vida da fé, mas também na civilização, na humanidade com que somos capazes de viver”, afirmou.

Procissão do Corpo de Deus volta a percorrer as ruas do Funchal

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Marco Livramento , 08 Junho 2023 - 07:07