Madeira

Procissão do Corpo de Deus volta a percorrer as ruas do Funchal

Conheça as iniciativas que marcam a agenda desta quinta-feira, 8 de Junho, Dia Mundial dos Oceanos, data em que os calendários religiosos assinalam o ‘Corpo de Deus’

No ano passado, a procissão limitou-se à zona junto à Sé do Funchal. 
No ano passado, a procissão limitou-se à zona junto à Sé do Funchal. , Foto: Arquivo/ASPRESS

Este é o centésimo quinquagésimo nono dia do ano. Faltam 206 dias para o termo de 2023.

Depois de um interregno ditado pela pandemia da covid-19, as celebrações associadas ao Corpo de Deus na Madeira voltam a ter o fulgor de outros tempos, nomeadamente com a missa campal na Praça do Município/Largo do Colégio a e procissão após a missa a percorrer algumas das principais ruas do centro da cidade do Funchal.

Isso mesmo foi garantido ao DIÁRIO por Marcos Gonçalves, que além de ser pároco da Sé, assume as funções de responsável pela comunicação da Diocese do Funchal. O cónego refere que as celebrações do dia de hoje terão início com um “tempo de adoração” ao Santíssimo Sacramento, a partir das 13h30, na Igreja de São Pedro.

Pelas 18 horas tem lugar a missa campal, na Praça do Município/Largo do Colégio, presidida por D. Nuno Brás, bispo do Funchal, ao que se seguirá a emblemática procissão, que, como referido, voltará a percorrer algumas das principais ruas da cidade.

Em todos estes momentos, lembra o sacerdote, não vão faltar os irmãos de confraria, vários elementos das paróquias, das saloias tipicamente madeirenses e de muitos sacerdotes.

No ano passado a procissão já saiu à rua, mas para um percurso apenas simbólico, diante da Sé Catedral. Este ano, as celebrações retomam a pompa de outros tempos, com o ‘cortejo’ a sair do Largo do Colégio, seguindo depois pela Rua Câmara Pestana, Largo da Igrejinha, Avenida Zarco, Avenida Arriaga, Rua Conselheiro José Silvestre Ribeiro, Avenida do Mar, Avenida Zarco, terminando na Sé do Funchal, onde será dada a bênção final.

Marcos Gonçalves reconhece a importância destas celebrações para os fiéis madeirenses. No seu entender, “esta é uma festa que assinala, de certa forma, aquilo que já acontece todos os dias, particularmente aos domingos. Com isto queremos mostrar que alimentados pela Eucaristia, na presença de Deus, somos participantes naquilo que é o desenvolvimento e progresso de uma cidade, a partir do nosso trabalho, da nossa fé, com a presença da Igreja na cidade”.  

Esta quinta-feira não vão faltar os tradicionais tapetes de flores, ao longo de todo o trajecto por onde irá passar a procissão. Este ano, estes enfeites serão da responsabilidade das paróquias do Curral das Freiras; da Graça e Visitação, da Assomada e Achada de Gaula; das Feiteiras, do Rosário e Lameiros; e da Ponta Delgada, Boaventura e Fajã do Penedo.

Este envolvimento da comunidade sustenta toda a festa que se cria em torno deste momento, o que, para Marcos Gonçalves é o testemunho de toda a fraternidade, participação e alegria. O sacerdote destaca a grande participação de muitos fiéis das diferentes paróquias da Madeira.

O cónego lembra que, em todas as paróquias será celebrada missa, por regra, no horário de domingo, enquanto a procissão acontece apenas no Funchal, dando forma a uma celebração diocesana, que traduz a união dos diferentes sacerdotes com o bispo.

Marcos Gonçalves nota que “esta festa é replicada nas paróquias, com a festa do Santíssimo Sacramento”, consoante o assinalar o Santíssimo Sacramento próximo à celebração do padroeiro local, em cada uma das 96 paróquias da Diocese do Funchal.

Embora historicamente estas celebrações aconteçam na Madeira desde o século XV, logo após o início do povoamento, o certo é que nem sempre tiveram a forma e a organização que hoje lhe conhecemos.

Pelo menos até ao século XVIII, a procissão do Corpo de Deus, ou ‘Corpus Christi’, como também é designada, tinha, por assim dizer, duas grandes alas, uma religiosa e outra mais profana. Conforme nota Cristina Trindade, a jurisdição da parte religiosa cabia à diocese, enquanto a superintendência das celebrações mais profanas estavam à responsabilidade da Câmara Municipal, em substituição do Rei, sendo que muitas das determinações relacionadas com este assunto estão plasmadas nos livros de actas das vereações da Câmara do Funchal. Aos longo dos séculos, estão documentados alguns atritos entre as duas partes.

A investigadora, com vasta obra publicada na área da história da religião na Madeira, recorda que, inicialmente, a procissão acontecia apenas no Funchal, tendo sido posteriormente alargada a outras paróquias, nomeadamente na Calheta, em Machico ou na Ponta do Sol, entre outras, mas sempre no domingo posterior àquele em que a solenidade tinha lugar na capital madeirense. Note-se que, nestas situações, os fiéis dessas outras paróquias estavam obrigados a participar nas celebrações da cidade.

Numa divisão de jurisdição, competia à Igreja organizar as festividades dentro do templo, enquanto a Câmara se responsabilizada pela procissão, ainda que esta tivesse, como já referido, uma componente religiosa e outra profana, representando, de certa forma, o bem e o mal.

Neste sentido, competia, também, à Câmara nomear quem iria participar no cortejo, bem como as funções que desempenhariam, sendo a festividade anunciada com os pregões à saídas das missas, já que a edilidade pretendia ser reconhecida como organizadora do evento, querendo juntar o maior número possível de pessoas, muitas delas vindas das zonas rurais. Para satisfazer essa demanda, com o desenvolvimento da navegação a vapor passou a haver viagens extraordinárias para trazer as populações para a procissão no Funchal.

Cristina Trindade nota que no cortejo era respeitada uma hierarquia. As pessoas estavam organizadas por ofícios ou por ‘cooperativas’, numa ordem definida pela Câmara. Muitas vezes, logo atrás do clero surgiam as prostitutas – chamadas de mancebas que viviam na mancebia – que eram legitimamente aceites. “A parte da Câmara era quase um número de sítio, com o que eles chamavam as pelas, umas construções humanas em altura”, refere a investigadora, destacando que a cada um dos ofícios era atribuído um determinado divertimento, muitas vezes, uma dança ou um jogo (dança das espadas, dança mourisca, etc).

Como elementos alegóricos e simbólicos que faziam parte deste cortejo tínhamos: à frente a Cruz, seguido da imagem do São Jorge a Cavalo, os mariolas, os gigantes, o castelo, os bonecos, etc. A figura do diabo também estava presente.

A condução das varas do pálio sempre causo algum atrito entre a Câmara e o Corpo Capitular da Sé. Estava assente que estes as tomavam no interior do templo e os representantes daquela no exterior do mesmo, mas tal gerou, em várias circunstâncias, algumas quezílias entre as partes.

Esta é uma festividade móvel, acontecendo sessenta dias após o Domingo de Páscoa, coincidindo sempre com a segunda quinta-feira a seguir ao Domingo de Pentecostes, que este ano é no dia de hoje. 

Mas há mais para ter em conta neste feriado. Saiba, agora, que outras iniciativas fazem parte da agenda de hoje

Entre as 8 e as 17 horas, realiza-se a edição deste ano dos ‘Madeira Games’, que se prolonga pelos próximos dias. Trata-se de um evento desportivo, de carácter competitivo, com o intuito de promover a modalidade de Crossfit. Esta prova, organizada pelo Clube Naval do Funchal e a Naval Box Insular CrossFit, já faz parte do calendário nacional de competições do género,  fruto de uma parceria entre o Clube Naval do Funchal e a Naval Box Insular CrossFit. Este ano estão inscritos mais de 130 atletas oriundos de Portugal, Inglaterra, Irlanda, Escócia, Bélgica, Holanda e Brasil. O evento tem lugar no Cais 8.

Madeira Games reúne mais de 130 atletas de vários países

A edição de 2023 do  Madeira Games, esgotou as vagas disponíveis para inscrições em menos de um mês. A prova da Madeira é já referência internacional, reunindo mais de 130 atletas oriundos de Portugal, Inglaterra, Irlanda, Escócia, Bélgica, Holanda e Brasil. A prova vai decorrerr nos dias 8, 9 e 10 de Junho, no Cais 8 do Porto do Funchal.

Entre as 9 e as 20 horas acontece o segundo dia de trabalhos do 1.º Forum Internacional Amigo da Amazónia, na Quinta de São João.  

Madeira enquanto exemplo para a Amazónia

1.ª Forum Internacional Amigos da Amazónia decorre entre hoje e amanhã em Câmara de Lobos

Às 21 horas estreia da peça de teatro ‘O Primo Basílio’, no Teatro Municipal Baltazar Dias.

'Primo Basílio' em cena no Teatro Municipal Baltazar Dias

A partir de amanhã, 8 de Junho, pelas 21 horas e até ao próximo dia 11, estará em cena o espectáculo 'Primo Basílio', realizado por Eduardo Gaspar e com Francisco Côrte e Sara Cíntia como protagonistas.

Para as 21h30 está agendado o concerto do quinteto de sopros ‘Atlântida’, uma produção da ANSA/Orquestra Clássica da Madeira, a ter lugar no Reid´s Palace, A Belmond Hotel.

Para o dia de hoje estão agendados, também, dois eventos onde o padel é rei. O torneio ‘Atlântico Padel Tour’, organizado pelo DIÁRIO, leva a modalidade até ao Porto Santo, com os campos do hotel Vila Baleira a servirem de ‘palco’ para as equipas que vão procurar ganhar o maior número de partidas entre hoje e o próximo domingo.

Já o 'II Torneio de Padel São João', que acontece no mesmo período, terá como palco os campos de padel do Porto de Recreio da Calheta.

O dia 8 de Junho, ao longo dos tempos, tem sido notícia devido a alguns acontecimentos que hoje são verdadeiras efemérides:

632 - Morte do profeta Maomé, em Medina. Tinha 61 anos.

1903 - Nasce a escritora belga Marguerite Yourcenar, Marguerite de Crayencour, autora de 'Memórias de Adriano', primeira mulher eleita para a Academia de França.

1940 - Inauguração do Portugal dos Pequeninos.

1953 - O Supremo Tribunal dos EUA estabelece que nenhum estabelecimento pode recusar servir um cliente negro.

1958 - Eleições presidenciais. Humberto Delgado, candidato da Oposição Democrática, é dado como vencido, culminando a fraude eleitoral do regime.

1968 - É preso James Earl Ray, acusado do assassino do líder negro norte-americano Martin Luther King.

2009 - Cerca de mil polícias levam a cabo uma marcha entre o Parlamento e a residência oficial do primeiro-ministro, José Sócrates, em S. Bento, como protesto pela "falta de abertura do Governo" nas negociações do estatuto profissional.

2018 - Morre, aos 90 anos, Eunice Gayson, a primeira 'Bond girl' nos filmes do agente 007.

2022 - Morre, aos 87 anos, Paula Rego, artista plástica.

Pensamento do dia

O nosso verdadeiro lugar de nascimento é aquele onde lançamos pela primeira vez um olhar de inteligência sobre nós próprios.  Marguerite Yourcenar (1903-87), escritora belga