E se Marcelo demitisse a oposição?
Isto está cada vez pior. Quando eu penso que nada mais me vai surpreender, o Presidente da República tem o telefone em modo de voo durante três dias. Não sei se era algum voo daqueles que a TAP muda para se adaptar aos seus horários. Isso devia dar mais uma comissão de inquérito, mas corre o risco de nunca acabar.
O primeiro-ministro bem tentou falar com ele, mas Marcelo não me parece tão dependente do telefone como dos comprimidos para tudo e para nada. É pena. Se ele pusesse pelo menos na vibração, tinha sentido alguma coisa e atendido o telefone no primeiro dia. Caramba, já tenho medo de viver num país destes. Marcelo tem medo que o SIS descubra que ele tem um part-time como calceteiro? E se o SIS é do Estado e o Chefe de Estado é ele, ainda fico mais assustada. Outra pergunta que me tem apoquentado: se o SIS é do Estado, quem é que na secreta obedeceu a uma ordem do Governo? E quem foi o tipo do Governo que desafiou Marcelo e deu uma ordem a uma coisa que é dele? Marcelo não consegue sair da teia que o próprio criou e onde se enredou. Não pode demitir o governo e deitar o PRR ao lixo, não pode mandar Costa demitir Galamba, porque Galamba não é do tal “Estado”. E Costa já o lembrou disso. Coitado.
Imaginem que o Presidente agora desata a dar ordens aos ministros do Costa. Ia ser o bom e o bonito ver Galamba picar o ponto e o Chefe de Estado a chatear só porque sim. Porque adora uma boa queziliazinha e como dorme pouco começa logo de madrugada a trabalhar para conciliar os dois empregos. Como todos pudemos ver, o homem tem jeito para arranjar as pedras da calçada. Não sei é se declara impostos sobre isso. Se por acaso ler este modesto texto, eu dou-lhe uma ideia do que pode fazer: demitir a oposição. Não é porque gosta do Governo, porque isso já sabemos que não, mas ouvir o presidente do principal partido da oposição dizer que se perder por três por cento de votos nas Eleições Europeias, é uma vitória, é quase tão mau como ver Marcelo a comer gelados.
Eu queria ser uma mosca na casa do Costa e vê-lo a rebolar no chão de tanto rir. Não sei se, como eu, também teve de reler o que estava estampado em todo o lado. A citação é a seguinte: perder “por 2 ou 3 pontos não é mau resultado”. E lembrei-me das noites eleitorais na Madeira, sempre tão animadas, quando todos os partidos ganhavam. Ou porque tinham mais dois votos na secção do Lombo do Urzal, no interior da Boaventura, mas só tinham perdido um no Carvalhal, nos Canhas. Era aquela noite em que nós, os jornalistas, chegávamos às redações com a sensação de que quem tinha perdido as eleições éramos nós.