Senegal corta acesso a Internet devido a protestos que já resultaram em16 mortos
O governo do Senegal cortou ontem o acesso à Internet móvel no país, devido aos protestos em que já morreram 16 pessoas, desencadeados pela condenação do opositor Ousmane Sonko, que o impede de disputar as eleições presidenciais de 2024.
"Devido à disseminação de mensagens de ódio e subversivas num contexto de perturbação da ordem pública em algumas localidades do território nacional, a Internet de dados móveis encontra-se temporariamente suspensa em algumas faixas horárias", informou o Ministério das Comunicações, Telecomunicações e Economia Digital através de um comunicado.
"As operadoras de telecomunicações são obrigadas a cumprir os requisitos notificados", acrescentou, algo que foi confirmado através da rede social Twitter pela empresa Orange.
O portal Netblocks também noticiou a interrupção do serviço neste país vizinho da Guiné-Bissau, e a agência espanhola Efe pôde verificar, em Dacar, as dificuldades no envio de mensagens através da aplicação de mensagens Whatsapp.
As autoridades senegalesas impuseram esta medida depois de já na quinta-feira terem restringido o acesso às redes sociais (como Twitter e Facebook), algo criticado por organizações como a Amnistia Internacional (AI) e a Repórteres sem Fronteiras, que considera que o trabalho dos jornalistas no Senegal está gravemente perturbado.
"As autoridades devem parar a máquina repressiva que visa silenciar qualquer forma de crítica ou voz dissidente e libertar os detidos por exercerem o seu direito à liberdade de expressão", declarou no sábado Samira Daoud, diretora regional da Amnistia Internacional para a África Ocidental e Central, criticando as detenções "arbitrárias" que têm ocorrido nos últimos meses.
Os protestos começaram na quinta-feira, quando foi anunciada a sentença de dois anos de prisão para o opositor Ousmane Sonko, por corrupção de menores, e continuaram na sexta-feira e, em menor grau e intensidade, no sábado na maioria dos bairros da capital senegalesa e nas principais cidades do país.
Os manifestantes ergueram barricadas com pneus e veículos em chamas, atiraram pedras contra as forças policiais e realizaram saques a lojas e edifícios públicos, enquanto a polícia usou gás lacrimogéneo.
A Cruz Vermelha senegalesa tratou cerca de 360 feridos resultantes dos violentos protestos em que também foram registadas 16 mortes, segundo os mais recentes dados oficiais, embora o partido de Sonko, Patriotas do Senegal pelo Trabalho, Ética e Fraternidade (Pastef), coloque o número de vítimas mortais em 19.
O líder da oposição foi julgado em 23 de maio, depois de ter sido acusado, no início de 2021, por uma jovem massagista de "violações repetidas" e "ameaças de morte", acusações das quais foi absolvido pelo tribunal, que o considerou culpado, no entanto, de corrupção de menores.
Sonko e a sua comitiva denunciaram a "instrumentalização" da justiça por parte de do Presidente, Macky Sall, que governa o país desde 2012, para o impedir de concorrer às eleições presidenciais marcadas para fevereiro de 2024.
Conhecido pelo seu discurso "antissistema", o líder da oposição critica a má governação, a corrupção e o neocolonialismo francês e tem muitos seguidores entre os jovens senegaleses.