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Saber estar!

Este estilo político é apanágio dos extremistas, sejam eles de esquerda ou de direita

A política em Portugal sofreu alterações inequívocas na representação partidária e, esse facto, trouxe consigo também uma mudança na forma como muitos se apresentam na causa pública.

Um debate político deve ser caracterizado pela urbanidade, decoro e brio, mas acima de tudo pela educação e respeito para com os outros. Acontece que de há uns tempos para cá a gritaria, a balbúrdia e a celeuma têm prevalecido e dominado as discussões públicas.

É certo que o confronto político, para que seja proveitoso e frutífero, carece de audácia, arrojo e vivacidade, mas a forma como se tem encarado o debate, em que se olha para os outros como inimigos e não como adversários, em que se reivindica o tudo ou o nada, e em que ou é preto ou é branco, só enfraquece e fragiliza a democracia.

Este estilo político é apanágio dos extremistas, sejam eles de esquerda ou de direita, inflamando o debate com os já tão conhecidos “soundbites” e fazendo da interrupção constante e sistemática o modus operandi da sua atitude numa tentativa de que a decência, a elevação e a elegância sejam suprimidas e em que impere a falta de respeito, de consideração e de educação.

É responsabilidade dos moderados e sensatos que não permitam que a discussão pública se transforme radicalmente, sob pena de se permitir que o nosso país se veja confrontado com os desafios democráticos que outros países ainda hoje se vêm desafiados, como é o caso do Brasil e dos EUA. Nos quais os discursos dividem uma nação, em que a sociedade se desdobra em partes irreconciliáveis, em que se opta pelo menos mau em detrimento do miserável e em que a pátria se reparte no “nós” – os bons – e “eles” – os maus.

Houve um período recente em que o assunto do dia era a ética republicana. Ora, apesar de ter sido absolutamente obliterada dos discursos políticos, para mim a ética tem a incumbência de direcionar mormente todos aqueles que contribuem para a causa pública, independentemente do seu contributo ser mais ou menos relevante.

Acontece que com os “deploráveis” acontecimentos atuais, e repare-se que a expressão “deplorável” é demasiado clemente para o que efetivamente aconteceu, parece que foram descartados e esquecidos todos os princípios morais, éticos e civilizacionais que devem guiar a atuação dos altos dirigentes políticos.

Ainda assim, há quem mostre que a ética, a dignidade, a nobreza e o nível são indispensáveis e indissociáveis à maneira como se faz política. Um bom exemplo disso, foi a atuação do PSD e de Luís Montenegro ao retirar a confiança política ao deputado Joaquim Pinto Moreira, uma pessoa que, apesar de próxima do líder do PSD, não deixou de sofrer as consequências dos seus atos.

Imagine-se que este critério sério, digno, íntegro e imparcial era aplicado ao atual Governo da República. Haveria quem ficasse com as pernas a tremer, e garanto-vos que não era nenhum banqueiro alemão, mas talvez a imagem dos políticos aos olhos do povo começasse a modificar, e todos aqueles que fazem da gritaria e da algazarra a sua estratégia política deixassem de ter hipotéticas razões que alimentem essa indecorosidade.