Julgamento de honra
Desse modo, o dinheiro teve uma finalidade benemérita e ambos, comerciante e agricultor, mantiveram a sua honra intacta e até reforçada
Mais vale ser pobre e honrado do que rico difamado
Numa aldeia do interior, no tempo em que a honra valia mais do que o ouro, surgiu este caso insólito: um comerciante vendeu mais trigo do que tinha comprado a um agricultor. Nenhum deles quis ficar com o dinheiro que sobrou.
O trigo tinha sido comprado a um agricultor no final de um verão seco e quente e foi guardado numa tulha. O comerciante vendeu o trigo, aos poucos, na sua loja, durante o chuvoso inverso que se seguiu e na primavera do ano seguinte.
Trigo a mais
No início do verão, ao fazer as contas, o comerciante constatou que tinha vendido mais trigo do que os alqueires que tinha comprado no ano anterior.
Como homem honesto que era, dirigiu-se junto do agricultor para lhe pagar os alqueires em excesso. O agricultor, porém, também pessoa séria, já tinha recebido o dinheiro do trigo que vendeu, recusava receber a mais o que quer que fosse.
O julgamento
O comerciante até se confessou ao padre a quem disse: vendi mais trigo do que comprei, mas juro que não roubei, nem enganei os clientes, quero devolver o dinheiro que recebi a mais, mas o agricultor recusa receber.
O caso foi apresentado ao juiz da aldeia para decidir a quem entregar o dinheiro a mais.
Perante caso tão insólito, o juiz perguntou a ambos porquê recusam dinheiro que sobrou? O agricultor respondeu que mais vale ser pobre e honrado do que rico difamado. O comerciante também disse que é rico porque é honesto e mantém a sua honra, e assim quer continuar.
A sentença
Após mandar averiguar, o juiz concluiu que durante o chuvoso e húmido inverno, o trigo absorveu muita humidade tendo ficado mais volumoso e mais pesado. Por esse motivo, o comerciante acabou por vender mais do que comprou.
Como nenhuma das partes queria ficar com o dinheiro a mais, o juiz decidiu que o excesso seria entregue a um albergue que acolhe pobres e doentes.
Desse modo, o dinheiro teve uma finalidade benemérita e ambos, comerciante e agricultor, mantiveram a sua honra intacta e até reforçada.