Marcelo recomenda ao BCE "grande ponderação" no discurso sobre juros
O Presidente da República recomendou hoje ao Banco Central Europeu (BCE) que tenha "grande ponderação" no discurso sobre as taxas de juro, para evitar "preocupações, perturbações" na vida dos europeus.
Marcelo Rebelo de Sousa falava à comunicação social na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a propósito das recentes declarações da presidente do BCE antevendo novas subidas das taxas de juro.
Questionado sobre estas declarações de Christine Lagarde, feitas em Portugal, num fórum do BCE em Sintra, o chefe de Estado começou por defender que se deve "aguardar a evolução da inflação e a decisão dos bancos centrais".
"Mas eu também penso que os bancos centrais deveriam ter muito cuidado naquilo que dizem publicamente", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, que na sua resposta evitou nomear a presidente do BCE.
"É preciso uma grande ponderação naquilo que se diz sobre matéria de juro. Vemos países como os Estados Unidos da América inverterem a política e não aumentarem o juro. Vemos outros bancos centrais entenderem -- e eu respeito as decisões -- o contrário. Mas não vale a pena neste momento estar a criar mais preocupações, perturbações naquilo que é a vida já difícil de muitos europeus e de vários portugueses", reforçou.
O Presidente da República referiu que se recorda de "não há muito tempo ter ouvido banqueiros centrais dizer que os juros não iriam aumentar durante um período considerável de tempo", e que agora os ouve "dizer que é possível que possam aumentar não apenas neste ano, mas quem sabe no ano que vem".
"Isto tem um efeito de perturbação nas pessoas, nas economias e nos mercados que não é bom para ninguém", argumentou.
Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a comentar as palavras de Christine Lagarde associando aumentos de salários à inflação: "Eu não queria eu próprio fazer aquilo que acho que não é uma boa ideia fazer".
"O que se exige de governos como de autoridades políticas, todas, e de bancos centrais é muito cuidado no discurso que se tem, porque é muito sensível para o dia a dia das pessoas", insistiu.
O chefe de Estado salientou o impacto da subida das taxas de juro fixadas pelos bancos centrais na vida de quem tem créditos à habitação.
"A subida dos juros significa multiplicar por dois ou por três em espaço de tempo recorde a prestação na habitação, ou então o lutar pela casa e contrair novo crédito para o consumo, para equilibrar aquilo que se mantém no pagamento da prestação para a casa própria", disse.
Perante os jornalistas, o Presidente da República reiterou que esta "é uma matéria muito sensível para a Europa e os europeus, mas em geral para o mundo" pedindo cuidado "na previsão do futuro e no apontar pistas de futuro".
Marcelo Rebelo de Sousa tinha ao seu lado o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, com quem hoje participou no encerramento do 11.º Fórum Jurídico de Lisboa, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.