A Guerra Mundo

Rebelião militar na Rússia marca cimeira europeia também dominada por migrações e China

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Foto: Handout / TELEGRAM

A rebelião militar na Rússia vai marcar o Conselho Europeu, no final da semana em Bruxelas, na qual os líderes da União Europeia (UE) irão reforçar o apoio à Ucrânia e discutir migrações e relações com a China.

Dias depois de o grupo paramilitar Wagner ter avançado com uma rebelião na Rússia contra o comando militar, a incursão irá dominar a reunião dos chefes de Governo e de Estado da UE, que inicialmente seria mais focada na questão migratória.

De acordo com fontes europeias, os acontecimentos dos últimos dias referentes à Rússia e à Ucrânia serão mesmo o principal tema desta cimeira europeia, que começa pelas 13:00 locais (menos uma hora em Lisboa) com um almoço dos líderes com o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), já marcado antes da revolta militar.

Ainda não está assegurado que haja conclusões formais sobre esta matéria, segundo as mesmas fontes, que admitem antes uma abordagem mais geral e focada no apoio à Ucrânia, do que referente a questões internas russas.

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vai participar na reunião por videoconferência e é expectável que apresente informações sobre a contraofensiva na região ocupada pelas tropas russas, assim como a insistência no processo de adesão à UE.

Num rascunho das conclusões, a que a Lusa teve acesso, os chefes de Governo e de Estado da UE vincam que o bloco comunitário "continuará a prestar um forte apoio financeiro, económico, humanitário, militar e diplomático à Ucrânia e ao seu povo durante o tempo que for necessário".

Condenando "com a maior veemência a destruição deliberada da barragem da central hidroelétrica de Kakhovka, que tem consequências humanitárias devastadoras", os líderes europeus criticam Moscovo por "transformar os alimentos em armas", dada a ameaça russa de não renovar o acordo de exportação de cereais no Mar Negro, cujo prazo expira em meados de julho.

Na carta convite enviada aos líderes dos 27, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, indica que "a guerra da Rússia na Ucrânia está a prosseguir sem tréguas", observando que a "unidade [europeia] inabalável contrasta com a desunião na Rússia, evidenciada pelos acontecimentos deste fim de semana".

Na missiva, Charles Michel aborda também outro assunto em cima da mesa, na quinta-feira - a questão migratória depois de, em meados de junho, os ministros europeus terem chegado a acordo para reformar as regras sobre as migrações e asilo.

A discussão deverá incidir, particularmente, sobre maneiras de evitar travessias ilegais, que estão a aumentar, e coartar a ação das redes de tráfico humano.

"O recente e trágico naufrágio no Mediterrâneo e as muitas vidas perdidas recordam-nos claramente a necessidade de continuarmos a trabalhar incansavelmente no nosso desafio migratório europeu. Após um relatório da presidência do Conselho e da Comissão, analisaremos a situação migratória e os progressos na aplicação das nossas conclusões de fevereiro", assinala o presidente do Conselho Europeu.

Fontes europeias assinalaram que este seria, inicialmente, o assunto que 'roubaria' mais tempo, pelas divergências entre os 27 sobre a política migratória, agora ultrapassado pela rebelião militar russa.

Aquele que já foi considerado como o pior naufrágio de sempre no Mediterrâneo ao largo da Grécia, causando dezenas de mortos confirmados e centenas de desaparecidos, motiva nova discussão acesa, segundo as fontes europeias.

Prevê-se um debate demorado sobre o Novo Pacto em matéria de Migração e Asilo, proposto em setembro de 2020 pela Comissão Europeia e agora acordado pelos 27, que foi concebido para gerir e normalizar as migrações a longo prazo, procurando dar segurança, clareza e condições dignas às pessoas que chegam à UE.

Defendendo uma abordagem comum em matéria de migrações e asilo, baseada na solidariedade e na responsabilidade, o acordo aprovado prevê o pagamento de uma compensação financeira de 20 mil euros por cada requerente de asilo não recolocado.

Ao todo, a UE estima a recolocação de 30 mil migrantes e uma contribuição de 660 milhões de euros para o fundo destinado a financiar a política migratória.

Já na sexta-feira, a cimeira europeia será dedicada às relações da UE com a China, ocasião que Charles Michel espera que seja uma "oportunidade para reconfirmar a posição ampla e unida" dos 27 face a Pequim.

Ainda nesse dia, haverá uma discussão sobre segurança económica, na sequência da proposta apresentada pelo executivo comunitário, há uma semana, focada na identificação dos riscos mais sérios nas relações comerciais com países como a Rússia e a China.