Oportunidade a não perder
Será sempre imprudente fazer previsões, mas arrisco afirmar que muitos madeirenses vão, nos próximos tempos, ser apanhados de surpresa com o que vai acontecer nas suas vidas. Vem isto a propósito dos avanços da Inteligência Artificial (IA) e da necessária gestão política do seu impacto na RAM. Embora a investigação e especulação sobre a IA não sejam novas, foi só a partir dos finais de 2022, com o lançamento do ChatGPT, que milhões de pessoas começaram a interrogar-se sobre como será viver num mundo em que vamos depender de ferramentas “inteligentes” para quase tudo.
Muitos profissionais vão, mais tarde do que cedo, lidar com a situação insólita de ter de coexistir com sistemas “inteligentes”, capazes de executar tarefas complexas, de uma forma mais eficiente e barata do que um ser humano. O desfecho dessa coexistência é totalmente imprevisível. De qualquer forma, o facto destes sistemas “aprenderem” em meses o que nós aprendemos em milhares de anos, só pode colocar o ser humano, cada vez mais, numa posição de desvantagem. Tendo em conta o que está em jogo, considera-se que é urgente regulamentar a IA.
Recentemente, o Parlamento Europeu deu um passo importante nesse sentido. Teme-se que a regulação já venha tarde e que as regras do jogo da IA venham a ser ditadas pelas leis de mercado e não pelas leis dos governos. O que aconteceu com a Internet não nos pode deixar sossegados. Os governos regularam tarde e mal e ainda hoje há zonas escuras da Internet onde a lei não chega. Muitos governos ainda não legislaram para defender as crianças de todo o lixo tóxico que encontram online - apesar dos comprovados prejuízos para a sua saúde mental.
Sabemos que, no contexto da globalização, a aplicação pura das leis de mercado, conduz a formas encapotadas de monopólio. O cenário do mercado da IA vir a ser dominado por um grupo reduzido de multinacionais é preocupante. Essas empresas ficariam com o poder imenso de gerir e aplicar todo o conhecimento humano.
Apesar da enormidade da tarefa, a RAM tem a sorte de ter uma escala e instrumentos políticos para adaptar-se com sucesso aos desafios da IA. No entanto, será necessária clarividência política para se perceber que essa adaptação é inviável num modelo centralizado. As tarefas de adaptação relacionadas com a IA, dada a sua natureza, têm de ser realizadas ao nível das instituições, empresas e famílias. O papel do governo será o de criar condições para que tal seja viável.
Manuel Pereira