ONU pede "empatia e respeito" nos tratamentos contra drogas e fim de estigmas
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou segunda-feira para a importância de tratar os dependentes de drogas "com empatia e respeito" e pediu o fim "do estigma e da discriminação", que tantas vezes dificulta o acesso a tratamentos.
Numa apresentação do Relatório Mundial sobre Drogas 2023, Delphine Schantz, diretora do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), afirmou que "é preciso que as pessoas primeiro parem com o estigma e a discriminação, e fortaleçam a prevenção", num momento em "o mercado de drogas está mais letal do que nunca".
"O objetivo da campanha deste ano é consciencializar para a importância de tratar as pessoas que usam drogas com empatia e respeito, oferecendo a todos serviços voluntários baseados em evidências, oferecendo alternativas à punição e priorizando a prevenção", disse Delphine Schantz, na apresentação na sede da ONU, em Nova Iorque.
No relatório, o Unodc notou um aumento preocupante nas mortes por overdose e manifestou preocupação com os desafios enfrentados principalmente por mulheres e pessoas com deficiência, em particular no acesso a tratamento e apoio.
"Há uma maior disponibilidade de drogas sintéticas no mercado, e novas combinações de drogas que tornam mercado mais letal do que nunca", frisou.
O fentanil, uma droga sintética 100 vezes mais potente do que a morfina, está por trás do aumento de mortes por overdose no Canadá e, principalmente, nos Estados Unidos durante a pandemia de covid-19, apontou o relatório.
"A crise de opioides na América do Norte não para, alimentada por um número sem precedentes de mortes por overdose", disse o Escritório das Nações Unidas.
O relatório, que analisa o estado da produção, tráfico e consumo de drogas no mundo, indica que cerca de 80.000 pessoas morreram de overdose de opioides nos Estados Unidos em 2021, 60% a mais do que em 2019.
A maioria dessas mortes, cerca de 70.000, é atribuída a opioides farmacêuticos sintéticos, principalmente fentanil.
Essa crise, aponta o Unodc, não se deve ao aumento do número de consumidores, mas sim aos efeitos letais do fentanil.
"A epidemia de opioides relacionada aos fentanis produzidos ilicitamente na América do Norte elevou o número de mortes por overdose a níveis históricos, com uma aceleração durante a pandemia de covid-19", resumiu o UNODC.
O levantamento observa que as mulheres representam 30% de todas as mortes por overdose nos Estados Unidos.
No Canadá, as mortes por overdose relacionadas a opioides sintéticos também aumentaram, sendo o fentanil a principal substância.
O relatório indica ainda que amostras dessa droga foram encontradas em 86% das vítimas mortais por overdose de opioides nos primeiros seis meses de 2021.
Naquele ano, cerca de 8.000 pessoas morreram no Canadá por excesso de opioides.
A nível global, a ONU estima que as mortes relacionadas com o consumo de drogas atingiram cerca de 500.000 em 2019, 17,5% a mais face a 2009, e dois terços delas devem-se a drogas como heroína ou fentanil.
A canábis é a droga mais consumida no mundo, com cerca de 219 milhões de pessoas a consumirem pelo menos uma vez por ano, seguida dos opiáceos com cerca de 60 milhões, das anfetaminas com 36 milhões e da cocaína com 22 milhões.
Também existem claras diferenças regionais na procura por tratamento: na maior parte da Europa e da Ásia, os opioides são a principal causa, enquanto na América Latina é a cocaína, em partes da África é a canábis e no leste e sudeste da África a metanfetamina.