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Inteligência artificial é "desafio para todas as áreas de atuação humana"

Foto Shutterstock
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O investigador e professor do ISCTE Gustavo Cardoso considera, em entrevista à Lusa, que a inteligência artificial (IA) é um desafio para o jornalismo como "para todas as áreas de atuação humana" e lembra que as tecnologias não são neutras.

"Como todas as tecnologias, tudo depende de quem as usa e para que fins, as tecnologias não são neutras", afirma o investigador do CIES-ISCTE, quando questionado sobre o impacto da IA.

E não são neutras porque têm efeitos que "influenciam determinados comportamentos, determinadas atuações, mas também não são nem boas nem más", depende do uso que lhes é dado, argumenta.

Portanto, "a decisão é sempre humana, mesmo na inteligência artificial", a qual "não é artificial, é desenhada por nós", prossegue o também coordenador para Portugal do Iberifier, um projeto que visa combater a desinformação e integra 23 centros de investigação e universidades ibéricas, as agências noticiosas portuguesa, Lusa, e espanhola, EFE, e 'fact checkers'.

Trata-se de uma "inteligência desenhada por humanos e que nós chamamos inteligência artificial porque estamos a tentar recriar, como uma espécie de objetivo último, uma forma de funcionar como os humanos funcionam".

Agora, aquilo que irá acontecer nos próximos anos sobre a IA será, primeiro, "uma grande expectativa sobre o que é que pode acontecer para o bem e para o mal e depois uma lenta adaptação à realidade".

Uma das coisas que a história ensina com todas as tecnologias de comunicação é que há sempre "uma expectativa muito superior quanto aos benefícios e aos malefícios da mesma" e que, "depois de um período inicial, onde muitas pessoas fazem muito dinheiro com a ideia do que é que aquilo vai fazer, na prática depois vamos reajustando e vamos percebendo quais são efetivamente os usos que podemos fazer da mesma", prossegue.

Com a inteligência artificial irá provavelmente "acontecer a mesma coisa", diz.

No campo da desinformação, "mais do que a inteligência artificial, é provavelmente a perceção que nós temos que ter, e agora estamos a falar de nós no sentido desta identidade cultural partilhada que tem a ver com uma visão judaico-cristã do mundo e, portanto, estamos a falar do Ocidente que é nós crescemos com a ideia a de São Tomé de ver para crer. E culturalmente aquilo a que nos temos de habituar, cada vez mais, é a não acreditar naquilo que vemos", argumenta.

Porque "já não é apenas aquilo que lemos, é aquilo que vemos também [...] e isto é "uma mudança radical", diz Gustavo Cardoso, acrescentando: "É um desafio para o jornalismo. É um desafio para a política. É um desafio para a medicina. É um desafio para todas as áreas de atuação humana".