Existe uma taxa de inflação pessoal?
A inflação diminuiu em maio para 4%, metade do valor que apresentava no mesmo mês um ano antes (8%). Isto significa que o custo do cabaz representativo do consumo dos portugueses aumentou percentualmente menos, mas continuou a crescer a uma velocidade superior à desejada que é de 2%. Parece-me que estamos no bom caminho, mas ainda não chegámos ao destino.
Se olharmos para a evolução do custo do cabaz da DECO (cabaz que contém 63 bens considerados essenciais) verificamos que a 7 de junho custava mais 10,32% do que um ano atrás. Assim o aumento de preços no cabaz de bens necessários foi superior ao aumento do cabaz representativo apresentado pelo INE, o que mostra que o aumento dos preços não afeta de igual modo toda a população, sendo possível que sejam os indivíduos cujo peso dos bens essenciais é maior no seu consumo aqueles que estão a ser mais afetados pelo aumento dos preços; estes indivíduos são os que pertencem aos grupos socioeconómicos mais pobres na sociedade.
O aumento dos preços não sendo igual para todos os bens, faz com que os consumidores façam escolhas diferentes das que faziam antes. Assim os consumidores não são insensíveis ao preço relativo dos bens, podendo utilizar substitutos para os bens que mais aumentaram de preço. Se, segundo a DECO, o arroz Carolino foi o produto essencial que mais aumentou de preço desde o início da Invasão da Ucrânia (81%) é muito provável que os consumidores tenham optado por comprar mais de outro tipo de arroz cujo preço subiu menos ou mesmo tenham comprado mais massas. Deste modo o cabaz não se mantém constante ao longo do tempo, sendo que mesmo o cabaz representativo que o INE usa é alterado com uma certa periodicidade.
O que penso que interessa ao consumidor é saber é quanto necessitaria de gastar hoje para ter o mesmo nível de satisfação que tinha com o consumo que fazia antes da Invasão da Ucrânia (ou há um ano). Comparando esse gasto com o que o consumidor gastou no período inicial calcularia o que chamaria a taxa de inflação pessoal, que dada a substituição feita pelo consumidor é inferior ao aumento do custo do cabaz inicial.
Esta inflação pessoal é que tem de ser compensada pelo aumento de rendimento para que o bem-estar do consumidor não decresça. Assim, o valor da inflação apresentado pelo INE parece-me o valor inferior (4%) e o valor da inflação do cabaz DECO (10,3%) o valor superior para o aumento de rendimento necessário para manter o nível de vida da maioria dos consumidores.