Mais de 500.000 pessoas fugiram do Sudão e dois milhões são deslocados internos
O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados disse hoje que mais de 500.000 pessoas fugiram dos combates no Sudão para o estrangeiro, num momento em que já há dois milhões de deslocados no país.
"Hoje, ultrapassámos a marca do meio milhão de refugiados do Sudão desde o início do conflito", afirmou Filippo Grandi numa conferência de imprensa em Nairobi. "Dois milhões de pessoas estão deslocadas no país", adiantou.
Desde o início do conflito, em 15 de abril, entre o exército, comandado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), lideradas pelo general Mohamed Hamdane Daglo, morreram mais de 2.000 pessoas, segundo a organização não-governamental Acled.
"Se não silenciarmos estas armas, o êxodo do povo sudanês vai continuar", advertiu o alto comissário.
O responsável da ONU, numa entrevista à agência France-Presse, apelou aos países que fazem fronteira com o Sudão, abalado por combates desde há dois meses, para "manter as suas fronteiras abertas".
"O meu apelo a todos os países vizinhos é que digam 'compreendo as vossas preocupações de segurança, mas por favor mantenham as vossas fronteiras abertas, porque estas são pessoas que fogem para salvar as suas vidas'", disse Grandi, que se encontrava em Nairobi para assinalar o Dia Mundial do Refugiado.
E depois de uma conferência de doadores organizada pela ONU ter angariado cerca de 1,5 mil milhões de dólares para combater a crise humanitária no Sudão e ajudar os países vizinhos a acolher as pessoas que fogem dos combates.
"É uma situação preocupante, com países vizinhos muito frágeis" e uma "insegurança que corre o risco de alastrar", disse Grandi.
De acordo com as Nações Unidas, mais de 150.000 pessoas fugiram do Darfur para o vizinho Chade, um dos países menos desenvolvidos do mundo, que já acolhe dezenas de milhares de refugiados, nomeadamente dos Camarões e da República Centro-Africana. Muitos sudaneses fugiram também para o Sudão do Sul e para o Egito.
"Isto tem de acabar, porque corre o risco de ter consequências incalculáveis na região e para além dela", apelou o responsável pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
"Se não silenciarmos estas armas, o êxodo do povo sudanês vai continuar", alertou Filippo Grandi, afirmando que o número de deslocados no país atingiu os dois milhões.
De acordo com a ONU, 25 milhões de sudaneses - mais de metade da população - precisam atualmente de ajuda humanitária para sobreviver.
Na segunda-feira, a comunidade internacional prometeu cerca de 1,5 mil milhões de dólares para ajudar o Sudão, uma soma que representa apenas metade do total que as agências humanitárias estimam necessitar.
Filippo Grandi apelou à comunidade internacional para dar mais, comparando-a com as despesas militares efetuadas pelos Estados.
"Não estou a dizer que as despesas militares não são necessárias, não é a minha área (...), mas a ajuda humanitária é uma fração muito pequena de tudo isso. Não acredito que não possamos fazer mais", afirmou, apelando em particular a "mais recursos humanitários por parte dos Estados do Golfo".