Crónicas

Outra vez a classe média

Portugal é dos estados da Zona Euro onde se remunera menos o capital nos depósitos. Precisando melhor, somos penúltimos. Atrás está apenas o Chipre. Todas as outras nações pagam mais. Segundo dados de março, estávamos com 0,9%, muito longe da França, que liderava, com 2,77%.

Já os juros dos empréstimos à habitação, no mesmo mês de referência, voltaram a subir e passamos a ser o 8º país, no âmbito referido, com taxas mais elevadas.

Faz umas semanas escrevi o que considerava uma tremenda injustiça, a banca ter os juros de crédito muito altos e os das somas depositadas muito baixos, quase estagnados há já alguns anos. Essa diferença gerou avultados lucros extraordinários para as instituições financeiras nacionais, num momento particularmente difícil para a grande maioria dos portugueses.

Hoje, aponta-se mais o dedo à outra face da moeda, o escasso preço pago pelos valores postos a prazo ao cuidado dos bancos. Um dos mais reduzidos da ZE, como se referiu antes. Parece resultar daqui uma fuga. Menos 7,6 mil milhões de euros desde o início do ano. Só no mês de março terá sido retirado quase metade dessa quantia das entidades bancárias.

Por sua vez os Certificados de Aforro registaram aderência significativa. Mas a descida dos juros na nova emissão penaliza a já parca poupança das famílias.

Para além do diferencial gerador de ganhos excessivos pela banca, em período de grande perturbação na vida de muitos, reafirma-se o que nos parece acontecer em claro prejuízo da classe média, sobremaneira fustigada nesta crise inflacionista e num progressivo processo de proletarização sem quem, de forma consistente, faça alguma coisa para inverter a tendência.