"A discussão em torno dos apoios públicos ao desporto assume renovada pertinência", diz o CHEGA
"A época desportiva que está a acabar destacou-se pela fraca prestação de muitas das equipas madeirenses envolvidas em competições nacionais, determinando, mesmo, a descida de divisão de alguns clubes considerados históricos na sua modalidade, entre os quais o Club Sports Marítimo, no futebol, o CAB, no basquetebol masculino, e o Clube Sports Madeira, no voleibol feminino. Estas situações, que são o culminar de várias épocas de declínio desportivo, têm invocado a reação de governantes e de vários sectores da sociedade civil, desde dirigentes a atletas e sócios, que coincidem na opinião de que é urgente uma reflexão séria sobre o desporto na Madeira, inclusivamente sobre os apoios concedido às instituições e respetivas modalidades", começa por dizer Miguel Castro, presidente do CHEGA-Madeira.
No seu entender, "a discussão em torno dos apoios públicos ao desporto assume renovada pertinência por duas razões, nomeadamente o mau desempenho registado em campeonatos nos quais as equipas madeirenses já assumiram papéis de referência, assim como as condições económicas da sociedade madeirenses, que exigem reforçado rigor na gestão das contas públicas".
A política desportiva regional, em geral, é um tema muito contencioso porque está associado a aspetos de natureza emocional, que são as emoções e o afecto que os clubes despertam na comunidade, em especial nas respetivas massas associativas. Apesar disso, é claro que a questão dos apoios aos clubes não pode ser pensada na lógica da emoção ou do clubismo, mas apenas e sempre na perspectiva do rigor e do respeito que qualquer governante tem de ter pelo erário público, que é, ao fim ao cabo, o dinheiro de todos nós, pois resulta dos impostos que pagamos com muito esforço e sacrifício". Miguel Castro
A juntar isto, Miguel Castro argumenta que, quando se fala em reformar a política desportiva, é preciso ter em atenção três aspectos diferentes, os quais, na sua opinião, são fundamentais para garantir uma relação justa, equilibrada e sustentável entre a governação e a prática desportiva.
“Em primeiro lugar, é preciso perceber e aceitar que os apoios ao desporto não se resumem ao futebol, mas também incluem ajudas a outras modalidades e entidades que não estão diretamente relacionadas com o futebol e que têm vindo a desenvolver um trabalho muito meritório na formação humana de crianças e jovens, na representação da Madeira a nível nacional e internacional e também no envolvimento das famílias na sociedade cívica, nomeadamente na prática desportiva, realçando o papel mobilizados e unificador dos clubes. Em segundo lugar, é preciso separar muito bem os clubes que têm capacidade para angariar fontes de rendimento além do apoio público daqueles que não têm essa possibilidade, quer seja por não terem projeção mediática ou por seguirem enquadramentos sociais e jurídicos diferentes. Por exemplo, não podemos exigir que uma equipa amadora ou mesmo profissional de um desporto menos popularizado tenha a mesma capacidade de captação de apoios do que uma equipa profissional que tem cobertura televisiva constante", referiu.
A juntar a estes dois assuntos, Miguel Castro adiciona uma terceira questão, que, a seu ver, tem sido evitada, mas que é importante, caso queiram reformar a política desportiva regional.
“A política de apoios seguida durante décadas muito ajudou a criar em certos clubes vícios de gestão e até resistência a investimento externo, pois os seus líderes tinham medo de perder controlo ou estatuto. Esta tendência não pode continuar e temos que exigir aos clubes e a todas as instituições que recebem apoios uma gestão responsável, transparente, rigorosa e isenta de egoísmos ou sede de protagonismo", sustentou.
A concluir, o presidente do CHEGA-Madeira apela ao governo e aos agentes desportivos que tenham a coragem para analisar objectivamente os problemas instalados e assumir as decisões que são necessárias.
“Por muito difícil que seja, é preciso reformar o atual modelo de apoios, pois é deveras claro que o mesmo não está a funcionar. Pelo contrário, em vez de lutarmos pela excelência e pela afirmação no plano desportivo, estamos reduzidos à sobrevivência e a prestações medíocres, que nada nos orgulham. Temos de definir bem o que é que pretendemos do Desporto regional, estabelecer uma estratégia política para lá chegar e seguir de forma determinada nesse novo caminho. Enterrar a cabeça, dizer generalidades, evitar as decisões difíceis e agarrar-se irracionalmente a clubismos só continuará a nos levar ainda mais para baixo", rematou.